Um dos grandes prazeres do Tindersticks, sexteto formado há dez anos em Nottingham, Inglaterra, é tocar para platéias desconhecidas e conquistá-las aos poucos com suas canções envolventes e sedutoras. Em Can our love…, quinto trabalho de estúdio da banda e o primeiro lançado no Brasil, eles gravaram apenas oito faixas. Mas é como se todo o disco fosse um longo e ininterrupto lamento, que leva o ouvinte a parar o que estiver fazendo e prestar atenção no que diz a voz grave e rouca do vocalista Stuart Staples.

Além dos vocais calorosos, na linhagem soul de Curtis Mayfield, Al Green e Ottis Redding, de quem já gravaram I´ve been loving you too long, a alma do Tindersticks reside no sofisticado entrelaçamento de guitarras econômicas, baixo hipnótico e intervenções de órgãos e pianos elétricos do arco-da-velha. Suas baladas lentas e quase declamadas, que chegam a durar oito minutos, a exemplo de Don’t ever get tired e Chilitetime, contam também com seções de cordas e metais. Influenciados pelo canto melancólico de gente como Leonard Cohen e Scott Walker, o Tindersticks faz um som denso, que mistura rock, soul e música de cabaré. Suas letras caudalosas aspiram a um status literário – um dos compositores, Dickon Hincliffe, encarregado dos violinos, tem mestrado em literatura mexicana.

Some a estas peculiaridades o fato de o Tindersticks não desperdiçar energia para virar sucesso e se tem uma banda de perfil interessantíssimo. A figura mais famosa com quem já dividiram o microfone foi Isabella Rossellini, uma atriz. “Não achamos que se deva implorar para que as pessoas comprem seus CDs”, afirma Staples, criticando o investimento em mídia das celebridades roqueiras. Os rapazes do Tindersticks preferem passar o tempo fazendo boa música, no que estão completamente certos.