Dono do maior escritório de lobby de Brasília, o empresário Alexandre Paes Santos acusou altos funcionários do Ministério da Saúde de integrarem um esquema de corrupção, não apresentou provas e virou alvo de investigação do Ministério Público e Polícia Federal por tentativa de chantagem ao ministro José Serra. Santos começou a se complicar quando a jornalista Alba Costa Chacon – sócia da empresa Informe RRN Comunicação e Marketing que tem entre seus clientes o Ministério da Saúde – relatou a assessores de Serra e ao subprocurador da República José Roberto Santoro uma conversa explosiva que teve com o lobista no dia 6 de setembro.

De acordo com Alba, Santos lhe mostrou uma fita que teria uma gravação feita no restaurante brasiliense Trastevere em que o chefe da Secretaria de Assistência à Saúde do ministério, Renilson Rehem de Souza, aparecia cobrando propina de um representante de uma multinacional de medicamentos para o caixa eleitoral de Serra. Com base nesse depoimento, um inquérito foi aberto na PF que obteve um mandado judicial de apreensão e busca da fita.

Os agentes federais apreenderam nove gravações, mas nada com funcionários da Saúde. “Não falei e nem mostrei gravação alguma. Disse apenas que ouvi em São Paulo, em conversas com dirigentes de laboratórios, que se estava cobrando propina no Ministério da Saúde”, defende-se Santos, que admite ter comentado o fato com Alba em seu escritório.

Até que o caso fosse parar na polícia, Alexandre Santos era o responsável pelo relacionamento com o governo federal do laboratório multinacional Novartis Biociências. Ele é lobista de várias grandes empresas estrangeiras como a Monsanto e a Johnson & Johnson. Está agora empenhado na venda ao Ministério da Aeronáutica de caças suecos Saab Gripen, da empresa Saab Aerospace, que também contratou os serviços da Informe RRN de Alba. Trata-se de um negócio de US$ 700 milhões.

Com base nas gravações e numa agenda com anotações de conversas com políticos e clientes, o Ministério Público investiga outros negócios com a participação de Alexandre Santos. Ele já havia se envolvido em uma confusão em 1998, quando acusou o lobista Anchieta Élcias de intermediar uma tentativa de extorsão do deputado Luiz Piauhylino (PSDB-PE) contra a TBA Informática. Desta vez, a enrascada é maior. Com todo o seu poder, o ministro José Serra está exigindo uma punição exemplar. “Se houve chantagem ao ministro da Saúde, o remédio é cadeia”, diagnostica o subprocurador José Santoro.