A professora de geografia Maria Regina, 61 anos, está feliz. Depois de sofrer com dores intensas que durante três décadas foram restringindo seus movimentos, hoje ela consegue dar abraços fortes em parentes e amigos. “Parece bobagem, mas para quem tem artrite reumatóide poder abraçar alguém é uma grande conquista”, afirma. A doença, que afeta 1,7 milhão de brasileiros, é uma inflamação crônica provocada pelo próprio sistema imunológico, que se volta contra algumas estruturas do organismo. Ela causa inchaço, vermelhidão, dor e degeneração nas principais articulações (mãos, cotovelos, joelhos, tornozelos, quadris). Com o tempo, rouba a força muscular e dificulta a movimentação. O bem-estar experimentado atualmente por Maria Regina deve-se à ação de um novo medicamento, o infliximab, da classe dos imunossupressores (que diminuem a ação do sistema de defesa). Na semana passada, a droga foi lançada no Brasil, durante a 13ª Jornada de Reumatologia do Cone Sul, em Florianópolis (SC).

A doença não tem origem conhecida, mas já se sabe que o excesso de uma proteína encontrada no sangue, a TNF, está associado ao mal. Em condições normais, sua função é proteger o organismo de infecções. É sobre essa substância que os medicamentos de última geração agem. O infliximab, como outros imunossupressores, inibe a ação da TNF. Desse modo, proporciona uma redução importante de sintomas. “Sinto-me mais disposta e ando melhor”, diz Maria Regina, que prefere não se identificar (seu nome foi trocado) por temer discriminação devido ao problema.

Estudos recentes indicam que a droga é eficaz para 60% dos pacientes que não respondem bem a outros remédios. “Sua maior vantagem é impedir a progressão dos danos nas articulações e nos ossos”, afirma o médico Christian Antoni, da Universidade de Erlangen, na Alemanha, coordenador da pesquisa feita em oito países para avaliar os resultados do medicamento. “A partir da segunda semana de tratamento, os pacientes já sentem os efeitos”, assegura. O trabalho de Antoni revelou também que 29% dos pacientes sentiram dor de cabeça, náusea e infecção urinária e ficaram mais sujeitos ao aparecimento de doenças oportunistas, já que ocorre uma baixa na imunidade do organismo. Uma dessas enfermidades é a tuberculose, mal que ainda preocupa os especialistas brasileiros. “O bacilo da tuberculose pode estar latente e reaparecer durante o tratamento. Por isso, o uso do remédio por pacientes que já tiveram a doença deve ser acompanhado com cuidado dobrado”, adverte o médico Wiliam Chahade, do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

O lançamento do infliximab (nome comercial Remicade) no Brasil representa uma redução no preço do tratamento, que é muito alto. Maria Regina, por exemplo, pagava pelo frasco importado de 100 mg entre US$ 700 e US$ 1.000 (ou cerca de R$ 2,8 mil, em valores atuais). Agora, ela compra a mesma dosagem por R$ 1.750. Alguns convênios pagam a aplicação, feita por infusão intravenosa (como um soro) em ambulatórios ou hospitais. Nas primeiras seis semanas de tratamento, o paciente precisa tomar três doses. Depois, faz uma aplicação a cada dois meses. O tratamento exige manutenção, pois os sintomas retornam se ele for interrompido.