O terrorismo não tem face, mas é possível dar-lhe combate e até mesmo vencê-lo. É uma luta que o Estado de Israel vem travando desde a sua fundação, em 1948. Nesse confronto sem tréguas, os israelenses têm computado mais vitórias do que reveses, principalmente graças à atuação do Mossad (instituto, em hebraico), talvez o melhor serviço de inteligência do mundo, integrado por quadros altamente motivados e treinados, com uma parafernália tecnológica que muito os auxilia, mas jamais os substitui.

“A inteligência, isto é, a coleta de dados por agentes de campo, será sempre mortalmente indispensável para o sucesso de operações dessa natureza”, afirmou em fins da década de 70 a este jornalista um dos mais brilhantes chefes do Mossad, Isser Harel. Entre outros feitos, Harel foi o responsável pela captura do criminoso nazista Adolf Eichmann na Argentina, em 1961. Ele sempre esteve convencido de que nada, nem mesmo satélites-espiões mais sofisticados, substituirão com êxito o trabalho árduo e perigoso de um agente de campo, infiltrado entre as hostes inimigas, num mimetismo camaleônico, vivendo como árabe entre árabes ou como indigente entre indigentes, em qualquer ponto do globo.

Uma das operações antiterrorismo mais espetaculares de Israel foi uma resposta a uma grave falha de segurança que permitiu a chacina das Olimpíadas de Munique, em setembro de 1972, quando 11 atletas israelenses foram assassinados por terroristas do Setembro Negro (braço terrorista da Al Fatah de Yasser Arafat). A então primeira-ministra de Israel, Golda Meir, criou uma equipe para combater o terrorismo árabe no mundo. O objetivo principal dessa equipe era eliminar Ali Hassan Salame, responsável pelo massacre. Quinze agentes foram escolhidos a dedo, entre eles, o carioca Waldemar Steinberg, responsável pela manutenção dos imóveis que serviriam como esconderijo dos agentes em várias capitais européias – Madri e Paris, entre outras.

A busca a Ali Hassan Salame, batizada como “Caça ao Príncipe Vermelho”, durou vários meses. Nessa caçada, foram eliminados 12 dirigentes do Setembro Negro e do terrorismo árabe, em assassinatos perpetrados em Roma, Paris, Londres e outras cidades européias. A operação se estendeu ao Chipre e ao Líbano, onde foram assassinados outros dirigentes palestinos. O “Príncipe Vermelho” desapareceu somente um par de anos depois, quando seu automóvel explodiu na capital libanesa.

Outro feito espetacular no qual a ação da inteligência foi fundamental ocorreu em Uganda, em junho de 1976, quando comandos israelenses desembarcaram no aeroporto de Entebbe para resgatar mais de 100 passageiros, a maioria judeus, de um vôo sequestrado da Air France por terroristas da FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina) e do Baader Meinhoff alemão. O aeroporto de Entebbe havia sido construído por uma empresa israelense, a Solel Boneh, que tinha cópia da planta. Os comandos treinaram numa réplica de madeira de Entebbe em Israel. O desembarque em Uganda contou inclusive com um soldado da estatura do ditador ugandense Idi Amin, devidamente pintado de negro, a bordo de uma limusine Mercedes-Benz idêntica à que Amin possuía e que fora tomada “emprestada” de um colecionador israelense. Apenas três minutos depois do desembarque, quatro dos sete terroristas que guardavam a ala onde estavam os reféns no aeroporto foram liquidados. Em 99 minutos de operação, todos os terroristas foram mortos, enquanto os soldados ugandenses fugiam da área. Os comandos ainda destruíram 11 MiGs da Força Aérea de Uganda que estavam na pista. Foram resgatados 106 reféns, registrando-se três mortes, incluindo-se a de um dos comandantes da operação, o capitão Yoni Netanyahu, irmão do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.