Neta de espírita e filha de evangélica, a estudante Kayllane Campos tem em sua casa uma amostra da saudável tolerância religiosa que existe no Rio de Janeiro, desde que o candomblé, vindo da África, ancorou no bairro carioca da Saúde em 1886 e nele abrigou os primeiros cultos organizados por Mãe Aninha, congregando diversas religiões. Nada tem a ver com a tradição do Rio de Janeiro, portanto, as covardes agressões que a adolescente Kayllane, 11 anos de idade, sofreu na semana passada devido à sua fé. Ela foi apedrejada por dois supostos evangélicos quando saía de um culto de candomblé, e novamente se tornou vítima de violência, dessa vez verbal, quando chegava ao IML para exame de corpo de delito – “macumbeira, macumbeira, vá queimar no inferno”, gritavam insistentemente algumas pessoas. “Quem tacou pedra é vândalo que se esconde atrás da palavra de Cristo”, diz Karina Coelho, a evangélica que é mãe da praticante do candomblé Kayllane. “Eu condeno as pessoas que feriram minha filha”.