Camila Okita é paulista e fonoaudióloga. Costuma dizer que, ao contrário do que muita gente pensa, a sua profissão não se limita a tratar de Cebolinhas – referência ao personagem da Turma da Mônica que troca o
r pelo l. “O bom trabalho de uma boa fonoaudióloga deve começar no incentivo ao aleitamento materno”, diz Camila.
Isso é novo no Brasil e é isso que ela vem fazendo. O que
tem a ver a fala com o fato de um bebê mamar ou não mamar no seio da mãe? “Disso vai depender não somente a sua boa articulação da fala mas também a respiração e a mastigação corretas”, diz ela. Ou seja: é bem provável que Cebolinha tenha sido amamentado com mamadeira. Camila acaba de implantar em São Paulo, no Centro de Atendimento Hospitalar da Mulher Presa, o primeiro programa que incentiva as presidiárias a amamentar naturalmente os seus filhos. Ou seja: Camila tem os olhos voltados para o desenvolvimento saudável dessas crianças. Dois pontos importantes:

• Quando o bebê mama no seio da mãe, sete músculos participam do processo de sucção: quatro da mastigação, dois da língua, mais o músculo supra-hioídeo (ligado ao pescoço). Quando o bebê mama em mamadeira, apenas três músculos faciais entram na sucção.

• A amamentação natural previne doenças do aparelho respiratório, como, por exemplo, respirar pela boca. Impede também doenças e defeitos no momento da deglutição: comer de boca aberta. Finalmente, previne dificuldades da fala.

Além de olhar as crianças, o programa olha também para as mulheres presas portadoras de HIV que não podem amamentar. “Ao falar de aleitamento natural, estamos incentivando que as outras mães, que não são soropositivas, amamentem os bebês daquelas que são. Mesmo estando presa, uma mulher pode cuidar da futura qualidade de vida do filho de outra presidiária”, diz Maria Alice Salvador, diretora da Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário de São Paulo. “Esse programa de aleitamento materno nos traz aquilo que o pediatra e psicanalista Donald Winnicott (1896-1971) ensinou sobre os três acontecimentos vitais da criança: contato com a realidade, integração e sentido do corpo”, diz a psicóloga Rosane Rodrigues Marques, diretora do Centro de Atendimento Hospitalar.