Reunidos em congresso para tentar realinhar o caminho do partido e procurar uma saída para a maior crise de sua história, os petistas dão demonstrações claras de que se descolaram dos anseios do País. Na sua cota de prioridades não entrou em debate soluções concretas para os problemas econômicos e sociais que eles mesmos criaram. Longe disso! Mais importante foi discutir a retaliação àqueles que, imaginam, sejam seus inimigos: as elites, os meios de comunicação, as siglas opositoras. Contra eles, as armas de sempre: mais impostos (sobre heranças e fortunas, além da famigerada CPMF), o controle da mídia e a eventual criação de uma rede de veículos próprios que, naturalmente, exalte os “feitos” do PT no poder e condene os resistentes. Nenhuma menção a pedidos de desculpas. Admitir erros, jamais. Corroído pela corrupção endêmica e por práticas nada republicanas de espoliação do Estado, o partido articula uma frente ampla que acentue, ainda mais, ideias retrógradas, como a da participação de sindicatos e de ONGs radicais, MST à frente, na mobilização para as eleições de 2018. Os delegados da legenda querem a qualquer custo Lula de volta ao poder e, em seus devaneios, ensaiaram até um ato de desagravo ao líder. Buscam adeptos. Coalizão é a palavra de ordem marcada no que definiram como a “Carta de Salvador” – o documento do encontro que induz seus signatários a uma espécie de “guerra”. Contra quem? Os brasileiros? No seu brado de 35 anos de existência, sem nenhum motivo para comemorar, mais uma vez a agremiação posiciona-se como vítima e debocha da Nação. Recorre ao cinismo e a hipocrisia para mostrar que luta contra os bilionários desvios nas estatais e que defende os interesses dos mais humildes. Mera retórica diante dos fatos que teimam em contrariá-los.

O PT, armado no congresso para a reação, briga com o próprio PT no que há de essencial: a governança do País. É contra as medidas de ajuste, é contra o ministro da Fazenda e discorda de quase tudo que a presidente Dilma delibera. Os atores dessa ópera bufa disfarçaram as diferenças durante o encontro, mas nos bastidores, de lado a lado, há um poço até aqui de mágoas. Estão preocupados com a recessão não pelo que ela tem de pior – que é a penalização de empresas, consumidores e trabalhadores – mas pelos efeitos danosos que ela poderá trazer sobre seus planos eleitoreiros lá na frente. O PT que teve vários de seus dirigentes julgados, condenados e presos atrás das grades não aceita sequer reconhecer a existência dos esquemas fraudulentos que montou como o Mensalão e o Petrolão. Seriam, no seu modo de ver, parte de um conluio para minar a imagem do partido. Falta honestidade intelectual e cultivo de valores morais elementares. Talvez daí tantas deserções de seus quadros venham sendo registradas de uns tempos para cá. Aonde o PT vai parar e em que mundo imagina estar vivendo?