MULHERES ARTISTAS: AS PIONEIRAS/ Pinacoteca do estado de São Paulo, SP/ de 13/6 a 6/9

Na literatura de Marcel Proust, as mulheres são retratadas como manipuladoras, ardilosas e perspicazes. Por trás do verniz do recato e da domesticidade, elas foram os obstáculos que o herói teve que superar, as lições que ele teve que aprender. A perda da inocência do protagonista de “Em Busca do Tempo Perdido” corresponde ao que, na pós modernidade, o filósofo francês Jean-François Lyotard chamaria de esclarecimento (Aufklãrung): a saída da menoridade. Porém, na mesma França e nos mesmos anos em que Proust desvendava convenções de gênero e sexualidade, os pressupostos disseminados socialmente determinavam que as mulheres eram, por natureza, mais sensíveis, dóceis e detalhistas. No campo da arte, eram taxadas de “amadoras” ou estigmatizadas dentro da noção de “arte feminina”. “Acreditava-se que eram menos capacitadas para a invenção, ou seja, propensas para gêneros menores, como as naturezas-mortas, as pinturas de gênero e especialmente as pinturas de flores, e menos capacitadas para as grandes obras, como a pintura de história ou a escultura monumental”, afirma a curadora Ana Paula Simioni, que realiza com Elaine Dias uma exposição sobre a inserção da mulher no sistema artístico brasileiro. A exposição evidencia que, à sombra do estigma de dóceis raparigas, as mulheres da virada do século 19 para o 20 acederam às práticas de ensino, afirmaram-se como profissionais e realizaram arte de importância histórica. O recorte reúne cerca de 50 obras realizadas entre 1880 e 1930, dispostas em duas salas da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Inclui trabalhos de artistas até hoje excluídas da História da Arte, ao lade de outras reconhecidas, como Abigail de Andrade, primeiro prêmio na Exposição Geral de Belas-Artes, em 1884, e as damas do Modernismo Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. “As dificuldades em obter reconhecimento eram semelhantes no Brasil e na França, mas em alguns campos, como a escultura, as brasileiras tiveram mais chance de se profissionalizar, até porque o cenário aqui era menos competitivo. Julieta de França e Nicolina Vaz de Assis são exemplos disso”, diz Ana Paula Simioni.  

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