Como um sopro de esperança para aqueles que dependem da ajuda do governo para conseguir um diploma universitário, a edição do segundo semestre do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), descartada no começo do ano, foi confirmada pelo ministro da Educação Renato Janine Ribeiro na segunda-feira 8. Desta vez, porém, haverá uma série de restrições para enxugar ainda mais os gastos. “É uma decisão acertada mantê-lo, mas mesmo assim, quando se faz um corte num programa como o FIES, o maior comprometido é o aluno que não tem recursos para bancar o ensino superior. E isso só aumenta a desigualdade”, afirma o especialista em planejamento e políticas públicas Henrique Heidtmann Neto, professor da Escola Brasileira de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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Protesto de estudantes em Brasília contra os cortes na pasta da Educação

Segundo as novas regras, o governo vai priorizar as vagas nas regiões Norte e Nordeste e as áreas de educação, engenharia e saúde. Além disso, vai baixar o limite de renda familiar que possibilita a inscrição do aluno, que hoje é de 20 salários mínimos – segundo o MEC, 92% dos inscritos declaram renda de até três salários mínimos. Gustavo Monteiro Fagundes, consultor jurídico do Instituto Latino Americano de Planejamento Educacional (Ilape), critica a falta de um debate mais amplo para definir as mudanças. “Alguns desses critérios teriam que ser revistos. Até que ponto priorizar uma capital do Nordeste é mais útil do que o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais?”, diz. “Melhor se levassem em conta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).”

O ministro da Educação disse que essa foi a única saída encontrada para não comprometer o programa durante a tempestade econômica que vive o governo. “O Brasil está em crise. Tem que afinar os instrumentos”, disse em entrevista ao Roda Vida (TV Cultura). Admitir que não há verba suficiente para manter projetos que foram bandeira de campanha na reeleição de Dilma Roussef é essencial para que a população tenha ciência da real situação do programa. “Acaba com a ilusão de que o FIES pode atender todo mundo”, afirma Fagundes. 

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Por causa das novas regras, muitos estudantes terão de adiar a vida universitária. Aluna do primeiro período de psicologia na Universidade Metodista em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Thaís Rodrigues, 21 anos, pretende tentar uma oportunidade com a nova edição no segundo semestre, mas sabe que tem poucas chances. “Se não der certo, vou ter que trancar o curso.” Até que a educação volte a ser prioridade do governo, muitos sonhos, como os de Thaís, ainda serão interrompidos.

Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress; Antonio Cruz/Agência Brasil