O artigo desta semana não é uma crônica como de costume.

É um furo de reportagem, baseado numa conversa por audio, no WhatsApp, com o senador Otavio Flores, do PL do Mato Grosso do Sul.

Neste contato, o senador afirmou que no mês de dezembro de 2022, próximo ao Natal, teria recebido um convite do presidente Jair Bolsonaro, para jantar no Palácio do Planalto.

Segundo ele, Bolsonaro o recebeu para o almoço na Granja do Torto na noite de 23 de novembro e, para sua absoluta surpresa, o assunto tratado foi uma possível invasão de Brasília para impedir a posse do presidente Lula.

No almoço, além do presidente Bolsonaro, estavam presentes também lideranças do Senado e da Câmara dos Deputados, o que tornava a situação ainda mais séria.

Perguntei ao senador qual teria sido sua reação.

Respondeu que como se tratava de um almoço entre amigos, ele sendo um antigo aliado de Bolsonaro, inicialmente não deu muita atenção, imaginando ser uma piada, mas com o desenrolar do café da manhã, se deu conta de que o filho do presidente realmente estava falando sério e que, apesar da ausência do pai naquele encontro, os planos pareciam ser reais.

Mesmo percebendo que existia uma ou outra inconsistência nas revelações, decidi redigir esta matéria dada a gravidade do assunto.

No entanto, dias depois, o mesmo senador Otavio Flores, que havia migrado para o PSDB do Acre me ligou novamente.

Afirmou que havia puxado pela memória e que gostaria de corrigir algumas de suas declarações.

Evidentemente, pelo rigor jornalístico, fiz questão de ouvir sua nova versão.

Na ligação, ele afirmou que o almoço não ocorreu a convite do ex-presidente Bolsonaro, seu eterno inimigo político, e sim do ministro do STF Alexandre Moreira e que o assunto tratado foi um possível golpe que estaria em andamento para impedir que o ex-presidente Bolsonaro tivesse acesso ao hotel que havia reservado na Disney World.

Neste ponto interrompi o senador e chamei a atenção ao fato de que aquela informação não tinha nenhuma relação com a revelação que havia sido feita anteriormente e que aquilo estava parecendo uma cortina de fumaça para me confundir.

O senador concordou. Alegou que estava confuso e afirmou que iria pensar um pouco mais para tentar se lembrar do assunto e exatamente quem estava presente no encontro.

Horas depois me ligou novamente, afirmando que havia realmente se confundido e que não havia ocorrido nenhum almoço nem com Bolsonaro, nem com seus filhos, nem com ministros do STF.

Na verdade, a confusão aconteceu na festa de aniversário de cinco anos do neto do senador. Dai em diante, todo o Poder estava envolvido em um buffet infantil na Asa Norte de Brasília

Que na verdade, o que aconteceu foi a festa de aniversário de 5 anos de seu neto em um buffet infantil na Asa Norte de Brasília.

Quando já estava por desistir de redigir esta matéria, recebi mais uma mensagem do senador Otavio Flores, agora do PT de Alagoas.

Segundo ele, na festa de 5 anos de seu neto esteve presente a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

No evento, realizado em um famoso restaurante de Brasília, a primeira dama teria perguntado se o senador conhecia um bom advogado especializado em divórcios de famosos porque Michelle teria a intenção de se divorciar do marido e queria se assegurar que na divisão de bens teria direito ao Palácio do Planalto, que pretendia alugar para a União.

Questionei veementemente o senador, alegando que aquela versão não parecia crível.

Afirmei que sua atitude fora gravíssima e que por pouco não publiquei a notícia falsa que ele havia me transmitido.

O senador se desculpou e garantiu que teria mais cuidado no futuro.

Concluiu perguntando se eu conhecia algum bom advogado de família, para que ele indicasse a uma amiga.

Semana que vem, volto às crônicas, porque isso de furo de reportagem não é para mim.