Uma tarja negra foi colocada na quarta-feira 17 na cadeira de um dos mais polêmicos parlamentares do Knesset (Parlamento) de Israel. O luto era pela morte do ministro do Turismo, o ultradireitista Rehavam Zeevi, assassinado às 7h (11h de Brasília) no hotel Hyatt de Jerusalém, poucas horas antes de anunciar sua renúncia. Zeevi, chefe do partido de extrema direita União Nacional, deixaria a coalizão governamental em protesto à recente política do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, de ceder às pressões impostas pelo presidente americano George W. Bush e seu aliado, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Washington e Londres pressionam árabes e judeus para pôr fim aos violentos conflitos que recomeçaram há um ano com a nova Intifada. Desde o ataque terrorista de 11 de setembro, EUA e Reino Unido colocaram como prioridade resolver o conflito palestino. Na noite anterior à morte de Zeevi, Sharon admitiu pela primeira vez, com muitas ressalvas e de uma maneira ambígua, a possibilidade de criação de um Estado palestino. A renúncia de Zeevi foi anunciada dois dias antes, no mesmo dia em que Blair se encontrou em Londres com Yasser Arafat, numa visita do líder palestino às capitais européias. Blair é um dos que costuram a coalizão dos países árabes na guerra contra o Afeganistão, e Arafat tenta se distanciar da imagem demoníaca de Osama Bin Laden.

O assassinato de Zeevi reacendeu a ira dos israelenses e veio enterrar as esperanças de uma trégua no curto prazo. Zeevi, morto com três tiros a sangue-frio, dois na cabeça e um no pescoço, nos velhos métodos de terrorismo, não foi assassinado por um extremista muçulmano ou um fanático homem-bomba. O crime foi assumido por três membros da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), grupo marxista-leninista, fundado em 1967, por George Habache, e que tem como inimigos Israel e Arafat. Segundo a FPLP, o assassinato seria para vingar a morte de seu secretário-geral, Abu Ali Mustafá, morto em 27 de agosto por um míssil israelense. A organização é contra os Acordos de Oslo de 1993, assinados entre israelenses e palestinos; e essa ação terrorista é típica dos extremistas, de ambos lados, que não aspiram a nenhum acerto de paz.

Reação – Na reação ao atentado, Sharon suspendeu qualquer contato com a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e seu presidente, Arafat. O primeiro-ministro também ordenou a volta dos bloqueios às cidades palestinas e fechou o aeroporto internacional de Gaza. Existe a suspeita de que os assassinos teriam circulado com facilidade por Israel, devido à suspensão das restrições na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Arafat condenou o atentado e deteu 11 líderes da FPLP, mas se recusou a entregá-los ao governo israelense. Na quinta-feira 18, o premiê Sharon deu um ultimato de uma semana para que os acusados fossem entregues e, se isso não acontecer, “Israel irá considerar a Autoridade Palestina uma entidade que apóia o terrorismo”, diz o comunicado oficial. Isso talvez significaria uma caçada aos líderes radicais palestinos. Uma autoridade palestina afirmou que o governo israelense teria planos de assassinar Arafat e outros líderes da AP.

Zeevi, general e herói de guerra, constava há muito tempo da lista dos extremistas palestinos porque defendia a expansão das colônias judaicas nos territórios ocupados por Israel. O ultranacionalista de 75 anos, com 60 deles dedicados à nação dos judeus, pregava a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e era radicalmente contra a formação de um Estado palestino. Seu apelido “Ghandi” não era por seu posicionamento pacifista, mas por ser magrinho e pela mania de raspar os cabelos. Zeevi chegou a comparar Arafat a Adolf Hitler e se referiu a alguns palestinos como “piolhos” que se reproduzem como câncer. Curiosamente, por ser laico, recebeu o apoio da extrema esquerda, que também era contra a interferência dos religiosos nas políticas de Estado. E, ironicamente, Zeevi entrou para a política em 1974, aliado ao Partido Trabalhista de Yitzhak Rabin, primeiro-ministro assassinado em 1995. Desde de que Rabin foi morto por um extremista judeu, esta é a primeira vez que um líder do alto escalão do governo israelense é assassinado.

O perigo da retaliação – Para o cientista político Mario Sznayder, da Universidade Hebraica de Jerusalém, Sharon irá endurecer ainda mais suas políticas, como uma resposta ao atentado contra o ministro. O analista também disse a ISTOÉ que no cenário internacional “Israel se encontra em uma posição estranha porque está fora da coalizão antiterrorismo, que inclui países que abrigam grupos terroristas como o Irã e ao mesmo tempo é uma vítima do terrorismo”. Sznayder afirmou que, por enquanto, os países árabes não estão interessados em incendiar o conflito no Oriente Médio. “Até o Iraque de Saddam Hussein não está querendo interferir. Mas, se um conflito explodir em Israel, será difícil para os países muçulmanos permanecerem neutros. Suas populações vão pressionar para que os líderes tomem uma posição. Espero que neste momento eles ajam com a cabeça fria e não sejam levados à guerra do Afeganistão”, disse Sznayder. A União Européia, os EUA e a ONU pediram moderação a Israel na retaliação ao atentado e que não abandone o diálogo. E a estabilidade da região vai justamente depender da reação de Sharon.