Uma espécie de dogma domina o governo federal. Para ele, não há mesmo como mexer na extensa rede de ministérios que criou para acomodar os seus apaniguados. É aquela história: todo mundo, cada um dos brasileiros, tem que dar sua cota de sacrifício para o ajuste fiscal. Já o governo quer perder o mínimo possível. Se puder, nada. Seguindo em sua miragem pessoal, Dilma e agregados acreditam estar ainda acima desses problemas terrenos, capazes de esbanjamento público sem consequências apesar das várias determinações em contrário para que o País aperte o cinto. O Planalto abandonou a ideia do corte dos ministérios como quem quer deixar de lado um tema incômodo para as suas ambições de perpetuação no poder. Simplesmente passou a não ser mais prioridade a tesourada nesse campo. O Congresso ainda insiste na questão, elaborou uma proposta – não votada até agora – que limita a 20 o número de pastas (ou seja, quase a metade da quantidade hoje existente). Mas a bancada governista articula para deixar o assunto em banho maria. O gasto com o funcionalismo e aparelhamento estatal é a pedra de toque do desperdício público. Desde o início das administrações petistas, ainda na primeira gestão de Lula, esse valor vem aumentando geometricamente e atingiu níveis recordes. O custeio da máquina dentro do atual quadro deveria diminuir, como proporção da queda do PIB, à razão de 0,7% ao ano. Não vai. Na semana passada, a presidente Dilma, tão ciosa dos postos e cargos que mantém sob seu comando, armou a maior quizumba quando os parlamentares ameaçaram colocar uma espécie de tutela sobre as indicações para as estatais, recorrendo ao direito de sabatinar, e rejeitar, os escolhidos. Naturalmente, o interesse dos senhores congressistas não era dos mais nobres. Afinal, são eles os primeiros beneficiados pela distribuição farta de posições estratégicas no aparato estatal. De todo modo, o temor do Planalto se fez notar. A mandatária reagiu destemperadamente à ameaça alegando que essas escolhas eram prerrogativas do Executivo (muito embora a possibilidade de sabatina esteja prevista em lei). As forças da Câmara e do Senado, lideradas por Cunha e Renan, finalmente se acomodaram – ou se entenderam com Dilma -, talvez em troca de mais uma negociata vantajosa para ambos os lados, na base do toma lá, dá cá. É sempre assim em se tratando do latifúndio estatal. O intento segue o mesmo: nesse quinhão ninguém mexe. E o ajuste que siga para outros lados. De preferência para aquele do contribuinte que, no entender do Estado, sempre pode dar um pouco mais. Em troca de nada.