Sabe-se agora o que sempre se suspeitou: o processo de escolha das sedes das Copas do Mundo tem sido marcado por subornos, chantagens e todo o tipo de pressões. Chuck Blazer, representante dos Estados Unidos na Fifa, confessou ter recebido pagamentos para votar na França, em 1998, e na África do Sul, em 2010. Dirigentes da Irlanda também foram subornados para não questionar o toque de mão do francês Henry num jogo eliminatório. E autoridades egípcias revelaram o preço de um voto: nada menos que US$ 7 milhões.

Como o futebol é o esporte que atrai multidões em escala planetária, e também por isso os maiores contratos de patrocínio, a Fifa se tornou uma das entidades mais poderosas de todo o planeta. Até recentemente, era uma das poucas organizações internacionais que escapava ao domínio anglo-saxão. Não mais. Desde que o FBI se mostrou capaz de prender cidadãos de outros países fora de sua jurisdição, e justamente na Suíça, que era tida como porto seguro por ricaços de todas as nações, o mundo se vê diante de uma nova ordem. A justiça americana hoje pode alcançar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo.

O problema é que, nem sempre, as motivações são transparentes. Como houve negociação de votos confessada por um delator americano nos mundiais da França e da África do Sul, por que não investigar as Copas de 2018 e 2022? Ambas, previstas para ocorrer na Rússia e no Catar, já estão sendo investigadas pelo FBI. Coincidência ou não, a Rússia derrotou a Inglaterra, que já se apresenta como candidata aos próximos torneios, e o Catar suplantou os americanos.

A questão, no entanto, vai além da esfera esportiva. O mundo de hoje vive uma nova guerra fria, que tem dois pólos: os Estados Unidos e a Rússia, um dos pilares dos BRICs, pólo de países emergentes que também inclui o Brasil. A tensão se acentuou desde que os americanos apoiaram uma mudança de regime na Ucrânia, que recebeu como resposta a anexação da Crimeia. E, no passo seguinte da escalada, o anúncio de sanções americanas à Rússia, que também foi alijada do G7, o grupo das sete nações mais industrializadas do planeta.

Isso revela que se as tentativas de sabotagem da Copa de 2014 no Brasil foram intensas, mas motivadas por fatores internos, o #naovaitercopa na Rússia será um jogo bem mais pesado. E que apenas começou. 

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