Nem a força das imagens transmitidas pela televisão nem a velocidade de informação da internet foram capazes de acabar com o mistério de um dos meios de comunicação mais antigos. O rádio não morre jamais. Mexe com o imaginário, com a fantasia, que é capaz de atribuir rosto, corpo e alma a uma simples voz. Em São Paulo, a personificação desse charme tem nome e história: Patrícia Palumbo – uma caiçara de São Sebastião, no litoral norte paulista, que arranca suspiros dos exigentes ouvintes da Rádio Eldorado FM. Aos 36 anos, Patrícia é a força que alavanca a boa música brasileira contemporânea. A confirmação desse talento está no livro Vozes do Brasil, que ela lança no próximo mês pela editora DBA.

Em um ano, Patrícia entrevistou 13 dos grandes nomes da nova música popular brasileira e reuniu em 250 páginas o que ela chama carinhosamente de “álbum de retratos”. E que retratos. Enquanto a maioria das emissoras investe no talento duvidoso de grupos como o Bonde do Tigrão, a rainha do rádio contemporâneo ratifica, nos estúdios da Eldorado e no livro, a genialidade musical de Ná Ozzetti, Paulinho Moska, Rita Ribeiro, Daúde, Lenine, Zélia Duncan, Cássia Eller, Chico César, Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Luiz Melodia, Ed Motta e Itamar Assunção.

Formada em jornalismo pela PUC-SP, Patrícia chegou a cursar faculdade de história e arrumou o primeiro emprego como assistente de produção na Rádio Cultura AM. Em 1997, criou um programa de entrevistas e músicas brasileiras, homônimo ao livro, na extinta Musical FM. O Vozes do Brasil migrou, um ano depois, com a apresentadora para a Eldorado FM e atualmente adquiriu um formato inédito no rádio brasileiro. Vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h ao meio-dia, mas a cada 15 dias transmite com exclusividade um show ao vivo. Patrícia entrevista os artistas em cima do palco, enquanto eles mostram seu repertório. “O Vozes do Brasil resgata a magia dos bons tempos do rádio”, diz a apresentadora. Fora de São Paulo, o programa pode ser ouvido pela internet www.radioeldorado.com.br, ou pelas emissoras Direct TV, Sky Net e TecSat.

Um dos últimos shows foi com a cantora Rita Ribeiro, que apresentou as 13 canções inéditas do novo disco, Comigo, e aproveitou para elogiar o trabalho de Patrícia. “A mídia massifica, a Patrícia não. Participar do Vozes é uma honra para qualquer músico”, assume. Amante do jazz de Ella Fitzgerald, Patrícia devora biografias e livros especializados. A paixão pela leitura, herdou da mãe, a professora Neide, a contadora de histórias mais famosa do litoral paulista. Já o fascínio pelo rádio é legado do pai, que chegou a ser ator de radionovela no Rio de Janeiro. Isso explica por que, em sua casa, além da infinidade de CDs, MDs e LPs, uma coleção de rádios antigos decora a sala.

Foi Patrícia que, em 1996, criou o programa A hora do rush, também na Eldorado, que, ao prestar serviços sobre o trânsito, conseguiu fazer com que a emissora ficasse sem transmitir o programa oficial A voz do Brasil. O programa continua existindo, mas o envolvimento com o livro e com os outros projetos acabou tirando-a do horário nobre. Além do Vozes do Brasil, ela apresenta o quadro ecológico Terra, Mar e Ar nos finais de semana, na Eldorado AM, e o Sesc instrumental na TV Senac, às terças-feiras, às 22h30. “Era muita coisa para uma pessoa só. Tenho uma filha de dez anos e queria passar mais tempo com ela”, revela. Sorte da pequena Gabriela, azar dos fãs, que chegam a formar fila para conhecer a musa do rádio contemporâneo.