Apesar das intempéries provocadas pelas incertezas que assombram a economia de todo o planeta, a indústria naútica nacional parece estar navegando de vento em popa. Na quarta edição do São Paulo Boat Show, o maior salão náutico indoor da América Latina, os barcos fabricados no Brasil ocuparam 80% dos 16 mil metros quadrados do pavilhão azul do Expo Center Norte. No ano passado, a ocupação nacional era de apenas 35%. É evidente que a alta do dólar contribui para isso, mas não podem ser desprezados fatores como o aumento da qualidade do produto nacional e os financiamentos que permitem aos consumidores de renda média realizar o sonho de ter uma embarcação de lazer. Hoje é possível comprar uma lancha de 5,3 metros com a mesma facilidade com que se compra um carro popular. Não é à toa que a Fibrafort, um estaleiro de Santa Catarina, vende aproximadamente mil barcos por ano. Aliás, uma das lanchas mais paqueradas do salão foi a Focker 160, de 16 pés, capaz de transportar até cinco pessoas. Equipada com motor de 60 hp, essa lancha pode ser comprada por R$ 20 mil. “Esse tipo de embarcação tem proporcionado milhares de novos adeptos ao lazer náutico no Brasil”, diz Ernani Paciornik, diretor da GR-1 Editora e um dos organizadores do São Paulo Boat Show. Trata-se de uma boa notícia. O setor fatura anualmente US$ 320 milhões e gera cerca de 260 mil empregos por ano.

Entre os 200 barcos expostos no Center Norte, os brasileiros também fizeram sucesso nas lanchas de porte médio e grande. Um dos estandes mais visitados no salão foi o da Real Power Boats. O estaleiro carioca exibiu no Center Norte barcos de 15 a 46 pés. “A popularização dos barcos pequenos permitiu que os estaleiros diversificassem a produção”, afirma Paciornik. Os brasileiros não estão fazendo água nem mesmo nas embarcações grandes. Ancoradas ao lado de estrelas internacionais, como as Ferreti e as Fairline, a grande vedete do salão foi a Intermarine 580 Full, uma lancha com 17,7 metros, três camarotes, três banheiros, água quente e ar-condicionado. Equipada com dois motores V-8, o barco pesa 22 toneladas e custa R$ 2 milhões. Com acabamento impecável e tecnologia italiana, a top de linha da Intermarine ainda é um sonho que poucos podem realizar. Talvez isso explique a triagem, muitas vezes grosseira, feita pelos funcionários do estande.