Maravilhoso e rico laboratório natural a céu aberto, as ilhas Galápagos formam um dos mais importantes santuários ecológicos do planeta. E basta um só exemplo para comprovar o que se está afirmando: desse arquipélago faz parte a ilha de Santa Cruz, e nessa ilha ainda vive a tartaruga batizada como Lonesome George, a única sobrevivente entre as tantas estudadas em 1835 pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). É isso: a senhora tartaruga carrega no casco 171 anos e, se o homem acelerar urgentemente os cuidados com o seu habitat, ela vira fácil a casa dos 200. Mas, como todas as espécies que vivem nas 59 ilhas desse arquipélago pertencente ao Equador, também Lonesome George está ameaçada de desaparecer.

Os especialistas fizeram as contas e descobriram que, se a população de ratos, cabras, bodes e porcos que infestam o local não for reduzida, as espécies estudadas por Darwin estarão extintas em menos de duas décadas. Introduzidos por piratas no século XIX, esses animais proliferaram-se com muita rapidez. Um estudo concluído na semana passada dá conta de que mais de 200 mil cabras e cerca de 400 mil ratos estão competindo com a fauna nativa atrás de alimentos. As cabras, por exemplo, que se alimentam de arbustos e vegetação rasteira, estão levando as tartarugas à inanição. Na natureza, a ação de predadores faz parte da luta pela sobrevivência e da seleção das espécies. Mas também é certo que o homem pode intervir sem causar desequilíbrios ecológicos para um lado ou para outro.

É isso que o governo equatoriano começa a fazer, embora timidamente, através do chamado Projeto Isabela. Os ambientalistas que o integram estão conseguindo reduzir o alto índice de nascimento de cabras, e estimam que, se nada de mais efetivo for realizado, elas chegarão em cinco anos ao patamar de 500 mil, causando danos irreversíveis ao ecossistema. Nas ilhas de Campbell e de New Zealand, 200 mil ratos já foram dizimados. Além dos animais, também o turismo, que no ano passado atraiu 126 mil visitantes ao arquipélago, causa estragos. Os biólogos acusam os cruzeiros de despejarem dejetos no mar, as operadoras de turismo alegam que o esgoto é tratado quimicamente e lançado somente em alto-mar. Nas ilhas, os turistas espalham lixo por todos os cantos e há ainda o risco constante de transmissão de doenças. Teme-se, sobretudo, que Galápagos esteja sendo aberto à gripe aviária e à febre do Nilo, detectada recentemente na Colômbia pelas autoridades sanitárias.

Aos poucos o governo do Equador, ainda que sob a pressão dos ambientalistas, vai reagindo. A partir de agora, apenas 12 embarcações com capacidade para 500 passageiros poderão ancorar anualmente em Galápagos. Ao mesmo tempo, no campo científico, as autoridades equatorianas diretamente responsáveis pelo ecossistema do arquipélago começam a liberar investimentos com destino certo: incentivar os estudos que possam facilitar a reprodução das espécies naturais remanescentes. Com essa finalidade, na ilha de Pinta, por exemplo, foram introduzidas 100 tartarugas gigantes, parentes próximas da antiga Lonesome George – o animal de 250 quilos que “viu” Darwin desembarcar. É a primeira vez que tais providências acontecem em Galápagos. Se der certo, os biólogos poderão respirar aliviados. Caso contrário, o mundo assistirá à destruição de um de seus tesouros naturais mais valiosos.