Acostumado a polêmicas, o craque Romário, 35 anos, passa por um momento inusitado. De um lado, mantém o apoio da torcida brasileira, que deseja vê-lo na Seleção. Do outro, está em guerra com a Força Jovem, principal torcida organizada do Vasco, time que defende. Eles não se cansam de xingá-lo, mesmo depois de ter marcado três gols no Cruzeiro e mais três no rival Flamengo. Nesta entrevista, ele comenta o conflito e afirma que há jogadores na Seleção graças à influência de protetores. “Tem um monte aí que tem amigo, padrinho e empresário”, diz.

ISTOÉ – Como é ser vaiado, mesmo fazendo três gols num jogo?
Romário – Uma parte da Força Jovem do Vasco ficou contra mim porque me pediu dinheiro para bancar um CD e eu disse não. Quem quiser dinheiro que vá trabalhar. São pessoas que torcem não pelo amor, mas pela grana. Para mim, são uns babacas. Sou a favor das organizadas. O que não aprovo é a minoria que faz chantagem, entra no vestiário ou espera jogador na saída do estádio para brigar. O torcedor tem direito de escolher a quem admirar. Pode vaiar, xingar, mas não cuspir ou agredir.

ISTOÉ – Você fez três gols no Cruzeiro e o Edmundo deixou o clube…
Romário – Só falo sobre o Edmundo quando ele estiver por cima. Todo mundo gosta de bater em bêbado. Espero que ele volte a ser grande como em 1997. Aí, a gente sai na porrada de novo.

ISTOÉ – Muitos acham que você não tem mobilidade para jogar na Seleção.
Romário – Hoje, tenho bem definida a minha postura. Não entro para jogar bem, mas para fazer gols. E já fiz mais de 800. O respeito comigo aumentou depois da Copa de 94. Falei que íamos ganhar e ganhamos. Eu seria um bom político – prometo e cumpro. Quero ajudar o Brasil a conquistar a vaga.

ISTOÉ – O Brasil vai se classificar?
Romário – Sim. Respeito Bolívia e Venezuela, mas acho que não perderemos.

ISTOÉ – Será que o Felipão vai te chamar para os dois últimos jogos?
Romário – O que me convoca é o que eu faço. Amanhã, poderei falar para o Romarinho: teu pai foi para a Seleção porque era f… e não por causa de amizade. Porque tem um monte aí que tem amigo, padrinho, empresário…

ISTOÉ – Quer dizer que tem jogador apadrinhado na Seleção?
Romário – Claro que sim. Eu conheço – e um monte. Que jogam e jogaram. Mas a ética me impede de dizer nomes.

ISTOÉ – Isso também ocorre em clube…
Romário – Claro. Eu trouxe três garotos do Projeto Romarinho para jogar no Vasco. Aí apareceu um diretor do clube e pediu que os garotos assinassem uma procuração transferindo o controle das carreiras para ele, mas os meninos não aceitaram e foram mandados embora. Estão em outros clubes. Os meninos ficam desanimados. Sabem que são bons, participam dos jogos, o treinador afirma que são bons, mas, na hora de assinar contrato, vem um cara e diz: ou me dá a procuração ou não fica. Isso acontece no Vasco e em outros clubes.

ISTOÉ – O deputado Eurico Miranda admite que pegou dinheiro com você para o Vasco. A dívida é grande?
Romário – Ele admite a dívida, mas não gosto de falar sobre isso. Assim que puder, vai me pagar, porque sempre foi homem comigo. Falam dele, mas ninguém prova porra nenhuma. Sai no jornal e, logo depois, todos se esquecem dele.

ISTOÉ – Você não acha os cartolas brasileiros antiquados?
Romário – O Brasil não pode perder o amadorismo. Isso sempre foi uma bagunça. Devemos organizar melhor, mas um pouco de bagunça é necessário. Fomos tetracampeões, não podemos mudar radicalmente. O investidor precisa entender que o lado profissional deve existir, mas sem matar o amadorismo.