Conhecida internacionalmente pelo romance Como água para chocolate, que virou filme e vendeu mais de 4,5 milhões de exemplares, a mexicana Laura Esquivel lança agora Tão veloz como o desejo (Objetiva, 171 págs., R$ 21,90), uma história de amor banal, melosa, dramática e muito bem escrita. Um homem e uma mulher se conhecem na adolescência e trilham o caminho usual dos obstinados enamorados: noivado, casamento, filhos, ciúmes, cumplicidade e pencas de adversidades até que a morte os separe. Existe roteiro mais previsível? A autora faz o diferencial na narrativa, que exclui o lugar-comum e descreve o trivial de forma curiosa.

Um bom exemplo se dá quando ela tenta explicar o estado de confiança surgido do amor. “É poder dizer ao esposo ou esposa: ‘Meu amor, você está com uma casquinha de feijão no dente.’ ” Ou quando relata a tormenta do protagonista ao saber que a mulher vai trabalhar fora. “Era como se tivessem enchido seu cérebro de gelo seco; como se trouxesse, atravessado no centro do corpo, um maçarico aceso que lhe queimasse a pele por dentro.” É impossível que algum leitor não tenha entendido o drama do coitado.

A história é contada por Chuva, a filha desses dois amantes que a vida decidiu tornar infelizes. Ela retira da narrativa a inefável fadiga das histórias amorosas e acrescenta uma ternura comovente. Muito ligada ao pai, destrincha os fatos a partir da ótica dele, sempre compreendendo e desculpando seus erros. A personagem tem a mesma idade de Laura Esquivel, 51 anos, e essa não é a única coincidência. Tanto a abertura quanto o encerramento do livro são uma espécie de delicados desabafos pessoais. Além disso, a obra traz pitadas da realidade mágica que já havia encantado os leitores e espectadores de Como água para chocolate. Portanto, Tão veloz como o desejo faz parte daquele tipo de leitura que proporciona imenso prazer.


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