Levitação – Rodolpho Parigi/ Galeria Nara Roesler, SP/ até 25/7

Em 2004, uma análise científica da anatomia da mulher pintada na tela “A Grande Odalisca” (1814) determinou que a modelo foi representada por Jean-Auguste Dominique Ingres com cinco vértebras a mais do que um corpo humano convencional. O corpo modificado da Odalisca de Ingres serve hoje de parâmetro para as pesquisas do artista paulistano Rodolpho Parigi, em grande parte orientadas para representações reais e fictícias de corpos humanos e animais. É natural, portanto, tomar o desenho “La Grand Odalisque” (2015) como a principal porta de entrada para a exposição “Levitação”, terceira individual de Parigi na galeria Nara Roesler, em São Paulo.

Em sua versão paulistana, a Odalisca apresenta rigorosamente a mesma pose na qual foi representada em 1814, com a mesma coluna vertebral ampliada. Sua pele aveludada, no entanto, é como que rasgada por bisturis de precisão cirúrgica, dando visão à imagem quase-enciclopédica da musculatura e de tecidos nervosos. O pé esquerdo, que na versão neoclássica descansa sobre a outra perna, é aqui convertido na pata de um animal híbrido entre uma ave e um réptil. O trabalho está cercado por outros desenhos em grande dimensão de asas de libélulas, inseto frequentemente representado por Parigi por sua “carga de magia, liberdade, mudança, transmutação”. Os desenhos da série das libélulas são formados por corpos que articulam filigranas de asas à musculatura humana.

ARTES-01-IE.jpg
FORÇA E FRAGILIDADE
"La Grand Odalisque", de 2015, encabeça a pesquisa
de Parigi sobre corpos em transmutação

Na tensão gerada entre a rigidez dos músculos e a fragilidade das asas está implícito outro antagonismo central à poética de Parigi: as matérias carnais (sanguíneas) versus as imagens etéreas. Essas duas intenções – o carnal e o etéreo – se retroalimentam em cada uma das cerca de 20 obras expostas, em composições que atingem uma qualidade altamente erótica. O que está em pauta, afinal, é um cientificismo colocado em xeque pelo impulso sexual e onírico.

O erotismo é ainda a chave de leitura para Fancy Violence, alterego e personagem concebida pelo artista há cerca de dois anos, durante uma residência artística no Pivô, e que este ano concorre ao Prêmio Pipa, do Museu de Arte Moderna do Rio. A personagem frequentemente protagoniza performances em que o êxtase espiritual confunde-se ao sexual. Na abertura da exposição
na galeria Nara Roesler, realizou a “Levitação”, que dá nome à mostra. 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias