Icone do humor politicamente incorreto, o falecido comediante nova-iorquino Andy Kaufman costumava ofender seu público a ponto de, volta e meia, ir espancado para casa. Pode ser um indício perigoso, mas é justamente ele um dos maiores ídolos do desbocado apresentador Marcos Mion, 22 anos, recém-contratado pela Rede Bandeirantes para ter um programa de auditório em pleno horário nobre, recheado de adrenalinados jovens na platéia. Escolhido para ajudar a sacudir a emissora, em busca de melhores performances na audiência, Mion ainda é um aprendiz na arte de ultrajar. Mas, em se levando em conta a mesmice que campeia na televisão brasileira, não deixa de ser um achado. Seu programa Piores clipes do mundo, que ele continuará apresentando na MTV até dezembro, tem o raro mérito de debochar da própria emissora.

Com apenas dois anos de carreira, Mion abraçou o sucesso cedo demais, depois do começo obscuro de figurante no programa Sandy & Junior, da Rede Globo. Certo de que o estilo que o está fazendo famoso é bem outro, tratou de exorcizar o passado debilóide diante da própria Sandy, na cerimônia de entrega do Vídeo Music Brasil – evento maior da MTV – em agosto passado. Ao lado da cantora, lembrou que não precisava mais participar daquela “novelinha”. Sandy teve uma reação olímpica. Mion foi aplaudido. Naquela noite, fez de tudo para jamais ser esquecido, inclusive lançando mão de uma óbvia aparição seminu, com o tórax depilado. “Meu humor pode ser inconsequente, mas é consciente. Na história da Sandy, as pessoas esperavam aquilo. Eu peguei no ponto”, lembra. “Para ser convencional existem pessoas melhores e mais bonitas.”

Ainda que esteja porejando autoconfiança, Mion possui um mínimo de autocrítica. Com o rosto anguloso que os mais velhos facilmente associam ao do comediante italiano Lando Buzzanca, cavanhaque e uma bandana que ajuda ainda mais a amarfanhar seu cabelo desprovido de corte, ele não é nenhum Reynaldo Gianecchini. Além disso, há um mês cismou de pintar as unhas de preto.

Grife chique – Mas o corpinho sarado tem agradado os melhores estilistas. Pouco depois da entrevista para ISTOÉ, Mion tinha uma sessão de provas marcada na grife chique de Ricardo Almeida, que veste até FHC. Normalmente prefere o visual largado. Somando tudo, não lhe falta a companhia de mulheres bonitas. Acabou fisgando Babi, aquela que já desfilou seus pezinhos descalços pelos cenários do MTV Erótica antes de mudar-se para o SBT. O casal tem procurado manter seus arrulhos longe da mídia. Na primeira aparição juntos, Mion inflou o peito e encarou os jornalistas que queriam saber se eles tinham “assumido”. “Sinceramente? Eu não devo explicação nenhuma para vocês. Que raios vocês querem saber da minha vida?”, gritou. A ira foi em vão. Na edição seguinte da revista Caras saiu uma foto dos dois junto à declaração de Mion: “Nossos corações estão batendo mais forte.” Para o bad boy foi a morte.

Mas que ninguém se engane com seu jeito meio estúpido de ser. Ele estudou teatro, conselho da mãe psicanalista para ajudá-lo a superar o trauma da perda de um irmão mais velho, interpretando Creonte numa montagem da tragédia grega Antígona, de Sófocles. Como diz Rogério Gallo, diretor de criação da Bandeirantes, Mion “ficou maior que a MTV”. O apresentador garante que ninguém vestiu mais a camisa da emissora do que ele. “Quando cheguei lá, ela estava meio parada, meio Jornal Nacional”, afirma. Se existe algo de que ele não pode reclamar é que sua ida para a Bandeirantes coincide com um momento em que a emissora se abre para quem, como ele, tem o bom hábito de ser polêmico.

De joelhos – Um bom exemplo se deu quando Mion espinafrou no ar o colega Sérgio Mallandro. “Não aguentei. Vi uma coisa absurda no programa do cara, uma pegadinha em que ele, fantasiado, ameaçava dar um tiro numa pessoa. O coitado ficou ajoelhado, pedindo clemência! É a perda total da noção do que é entretenimento.” Se continuar assim, Mion ameaça jogar por terra uma regra do show biz brasileiro em que são raros os que alfinetam o trabalho alheio, preferindo a falsidade dos confetes mútuos. “Artista brasileiro é todo cool, não se mete com ninguém. Aqui ninguém vaia. Acham uma porcaria e continuam aplaudindo. Pelo amor de Deus! É preciso vaiar”, diz ele, ansioso para colocar em polvorosa a platéia do auditório que o acompanhará todas as noites. De quebra, ele quer voltar ao teatro, se possível nas mãos do diretor Zé Celso Martinez Correa. “Vou me oferecer para trabalhar com ele, mas não quero ficar pelado, me masturbando num canto.” Titio Zé Celso merece.