Os presidentes do Brasil e da Argentina conversam pelo telefone. O primeiro ouve o desabafo do segundo. Os argentinos estão com estoque reduzido de camisinhas e precisam de socorro dos vizinhos. Solícito, o governante brasileiro concorda em enviar lotes extras do preservativo. O colega emenda: “Mas precisamos de camisinhas para 20 cm.” E desliga. O presidente reúne os fabricantes, faz o pedido sem descuidar do “detalhe” da medida e completa: “Coloquem na embalagem tamanho P.” A história é uma piada corrente na internet, mas ilustra a preocupação excessiva dos latino-americanos com o pênis. O órgão sexual masculino, desde tempos imemoriais, desperta a curiosidade de homens e mulheres. Seu funcionamento vem sendo estudado há algumas décadas, já que a impotência é um fantasma que assusta cidadãos do mundo inteiro. Mas outro tema intrigante passou a fazer parte das pautas médicas nos últimos anos, o tamanho. Até agora, as instituições mais respeitadas contestam a eficácia das técnicas de alongamento peniano que já existem. Apesar da extrema controvérsia, elas ganham mercado graças aos que sonham ter alguns centímetros a mais. Não é pouca gente.

Encanar com o tamanho do órgão, ereto ou flácido, é um fato comum na vida do homem e os especialistas sabem disso. “O medo de não conseguir ter uma relação sexual adequada e de não ser macho começa na infância. Mães aparecem nos consultórios com o filho e dizem baixinho que ele tem o pênis pequeno”, afirma o urologista Sidney Glina, presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa da Impotência. E a cobrança continua na adolescência e na fase adulta, a tal ponto que não é difícil encontrar gente que entrou em depressão por julgar que seu membro é anormal. “Não existe nada capaz de aumentar o órgão de um adulto dentro de critérios médicos sérios”, assegura. Se depender do médico, os sonhadores devem esquecer a idéia de aumentar suas medidas. “O máximo a fazer é recomendar tratamento psicológico para essa pessoa”, completa Glina.

Muitas vezes é a falta de informação que leva o homem a pensar que seu pênis não é normal. Entre setembro de 1999 e agosto passado, o Instituto Brasileiro para Saúde Sexual (Ibrasexo), que dispõe de um serviço gratuito para tirar dúvidas da população, registrou 1.676 perguntas em relação ao comprimento e grossura do pênis. O assunto é o primeiro da lista de telefonemas e e-mails. O médico Jairo Bouer, consultor do programa Erótica (MTV), confirma o grande interesse pelo tema. “Se não for o mais recorrente, é um dos mais. Quando me perguntam o que fazer para aumentar o pênis, respondo que as garotas não estão preocupadas com isso. Digo que o prazer sexual não depende do tamanho e tento encorajar o garoto a transar tranquilamente”, conta. Alguns dos jovens que procuram Bouer reclamam de ter o pênis grande demais, acima de 18 cm. “Eles falam que já machucaram ou têm medo de ferir as namoradas”, emenda.

Filmes – Para a maioria dos homens, entretanto, a possibilidade de machucar não diminui o desejo de ter o pênis maior. A fantasia do falo grande é quase unânime, difundida principalmente pela indústria de filmes pornôs. Para se conseguir um emprego nessa área, a medida do documento é fator determinante. “Só que não adianta nada o rapaz ser bem dotado se não consegue ter uma boa ereção”, adianta Tom Camp’s, diretor da produtora Nineteen. Ainda assim, encontrar um ator empregado com menos de 17 cm é quase impossível. Toni Tigrão, por exemplo, consolidou sua carreira graças, em parte, ao “talento” de seus 22 cm. Durante o exercício da profissão, Tigrão, um ex-açougueiro de 22 anos, chegou a machucar algumas mulheres. As parceiras de set recorrem a lubrificantes ou até a aplicação do anestésico xilocaína. Para a atriz pornô Larissa, tamanho não importa no dia-a-dia, mas faz diferença na telinha. “Um membro avantajado impressiona bastante. O público feminino espera encontrar um pênis poderoso nesse tipo de filme”, afirma.

É atrás desse tipo de impressão que correm muitos homens. Frequentemente, as clínicas recebem a visita de alguém insatisfeito apenas porque pensa que seu órgão é inferior ao dos colegas. Na maioria dos casos, o problema está mesmo na mente. Por causa disso, urologistas gaúchos e californianos resolveram passar a questão a limpo. Estudos feitos no Brasil e nos Estados Unidos mostraram que o comprimento médio (em ereção) do brasileiro é 14,5 cm e o do americano, 12,9 cm. Medidas normais. “Muitas vezes temos dificuldades em convencer o paciente de sua normalidade”, diz o médico Paulo Palma, presidente da seção paulista da Sociedade Brasileira de Urologia e professor de urologia da Unicamp.

“Ter uma vida sexual feliz não depende apenas do sexo. É necessário ter outras harmonias. Claro que não é só o tamanho do pênis que importa na vida de um casal. É preciso saber viver a dois”
Roberta Close, apresentadora
“Tamanho realmente não é documento. O que vale é o encaixe. Para o sexo ser bom precisa ter o encaixe psicológico e o do beijo, além do sexual, que não é definido pelo comprimento. O importante é ser gostoso”
Ludmila Rosa, apresentadora
“Isso é uma grande bobagem. O tamanho do pênis não tem nada a ver. O que é preciso para a relação sexual ser boa é muito amor. Tem é que fazer direito e amar”
Diana Bouth, apresentadora
“O que interessa numa relação sexual é o amor, o carinho e o jogo de sedução. Discutir coisas desse tipo é resquício da nossa cultura machista. Deveríamos estar preocupados com a fome, a miséria, a depressão. Esses sim são assuntos sérios”
Kristel Byancco, atriz e socialite
“Tamanho? Eu prefiro um pequeno brincalhão do que um grande bobão”
Suzana Alves, modelo e atriz
“O tamanho não é o importante, mas sim o desempenho. Ter liberdade com o parceiro é fundamental. Quando o homem sabe do que a mulher gosta, não tem como ser ruim. Por isso, o amor deve fazer parte da transa”
Alessandra Scatena, apresentadora
“O pinto só serve para fazer filho e mijar. Nunca pensei que pudesse ter prazer com aquilo. Se o homem não presta, de que adianta ter um grandão? A mulher nem precisa disso para gozar. Prefiro um homem honesto e de pinto pequeno”
Dercy Gonçalves, atriz
“O que importa não é o tamanho, nem o jeito como se faz, mas sim o sentimento. Fazer sexo, todo mundo sabe. Mas, se o homem gosta realmente da mulher, com certeza, ele irá torná-la feliz em todos os sentidos”
Gretchen, cantora
“Pinto grande só é bom de contemplar. Ele incomoda na hora da brincadeira. Muito pequeno também não dá. Torto, nem pensar. É feio e incômodo. O negócio é o pênis básico. Não sei dizer quais são as medidas porque não perco meu tempo com isso. Básico é básico”
Alicinha Cavalcanti, promotora de eventos

Quem não se encaixa em torno da média não precisa se atemorizar. “Do ponto de vista fisiológico, o pênis a partir de 7 cm em ereção é funcional. Esse tamanho já é suficiente para dar prazer ao homem e à mulher”, garante Glina. De acordo com o médico, a cavidade vaginal tem, em média, 8 cm de profundidade. “A vagina é sensível na porção externa, nos primeiros 4 cm, aproximadamente”, explica Glina.

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Cirurgia – Para quem tem menos de 7 cm, há quem indique tratamento. “Para essa situação rara existe a cirurgia de alongamento peniano”, afirma Palma. A operação é complicada. Tanto que o Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou que a intervenção seja executada apenas em caráter experimental. Ela somente deve ser feita, portanto, em hospitais universitários, com aprovação de uma comissão de ética – formada por médicos e psicólogos que estudem o assunto – e com termo de responsabilidade assinado pelo paciente. “Os únicos médicos que podem fazer a operação de alongamento são aqueles que estão em universidades e trabalham com esse tipo de experiência”, confirma o urologista Fernando Vaz, do Rio de Janeiro.

A cirurgia consiste no corte de um ligamento do pênis, o suspensório. Esse tendão é encarregado de unir o órgão à bacia e permite que o membro fique para cima. Com a operação, o paciente ganha, no máximo, dois centímetros. “As complicações não são desprezíveis. É uma região que cicatriza mal e o ligamento está muito próximo do nervo responsável pela sensibilidade. A pessoa pode perder a capacidade de ter ereção”, alerta Glina. Palma também alerta que a firmeza fica ameaçada. É uma intervenção que exige prudência. Afinal, sofrer de impotência é um dos maiores medos do homem.

O andrologista gaúcho Bayard Fischer Santos é defensor da cirurgia de alongamento peniano e reconhece os riscos. “Ela só é indicada para maiores de 40 anos. Depois de operado, o homem precisa fazer fisioterapia para que o processo de cicatrização não force o pênis a se retrair”, diz. Ele afirma que apenas cirurgiões especialistas no aparelho genital masculino podem fazer a operação. “Nos Estados Unidos, ela é uma das plásticas estéticas masculinas mais solicitadas”, assegura. Santos soube por meio da Academia Americana de Cirurgiões Plásticos de Pênis (uma entidade médica que realiza congressos periódicos) que a previdência americana cobre o tratamento para quem tem menos de 10 cm. “O paciente tem de passar por uma junta da previdência”, emenda.

Há opções para quem não quer saber de mesas cirúrgicas. Mas elas também são controvertidas. “É possível usar um aparelho de fisioterapia para ganhar alguns centímetros. Mesmo assim, o paciente tem de seguir um protocolo de atendimento médico”, esclarece Santos. Ele se refere a um equipamento aprovado pelo Ministério da Saúde em outubro. É um dinamômetro (ou extensor) que traciona a haste peniana. Ele força o órgão a se estender, puxando-o desde a base até a glande. De acordo com Santos, qualquer homem pode adotar o aparelho.

Se as alternativas cirúrgicas já causavam polêmica entre os médicos, os aparelhos que prometem alongar o membro põem mais lenha na fogueira. “Não há estudos comparativos desses equipamentos que comprovem eficácia”, assegura Palma, professor de urologia da Unicamp. Glina também é cético. “Esses aparelhos não foram testados seguindo critérios sérios”, dispara. O cirurgião vascular Alfredo Romero, diretor do Ibrasexo e especialista em sexualidade humana, rebate as críticas, argumentando que diversas descobertas da ciência tiveram de enfrentar o preconceito dos médicos. “Foi assim com a psicanálise”, exemplifica.

Romero não vê problemas em indicar os extensores para seus pacientes. Existem três modelos básicos: o dinamômetro (que pesa entre 600 g e 1,5 k), os que usam peças a partir de 300 gramas penduradas na glande e os elásticos (que puxam o pênis por meio de fios amarrados na perna). Esses apetrechos, de acordo com Romero, podem causar lesões se não houver acompanhamento médico. O único produto que ele condena é a bomba a vácuo. “Ela não faz crescer e sim inchar. A sucção arrebenta os microvasos penianos, escurecendo o órgão para sempre. A pressão pode criar uma troca de sangue entre os corpos cavernoso e esponjoso do pênis, o que leva à perda de potência”, avisa. O dinamômetro é um dos aparelhos mais procurados. Desde outubro, foram vendidas mais de 800 unidades. “Cada um custa R$ 1.450, parceláveis em 15 vezes”, garante o diretor da Surgest Medical, Walter Mildner, que comercializa o extensor. Ele está tão feliz com os resultados que se permite fazer troça do próprio nome.“É Walter, com M de machão ao contrário”, brinca.

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Sapato novo – Para ter efeito, o extensor precisa ser utilizado 12 horas por dia para que a tração alongue o pênis em 2 cm após seis meses, garante Santos. Depois disso, é preciso insistir mais um pouco para manter o ganho. Em geral, de duas a três vezes o tempo necessário para atingir o tamanho sonhado. “Ele é discreto e fácil de colocar”, assegura o médico. O funcionário público Alberto Viana (nome fictício), 29 anos, afirma que ninguém nota que ele anda com o extensor no trabalho. Nos primeiros dias de uso, estranhou o equipamento. “É como calçar um sapato novo. No começo sempre incomoda”, compara. Viana não se sentia bem com seus 11 cm originais (em ereção). “Depois do futebol, tomava banho de costas para evitar que os colegas percebessem o tamanho do meu pênis”, lembra. Viana, cujo desempenho sexual foi criticado pela namorada, está agora feliz com os 15,5 cm que conquistou. “Já recebi elogios da mesma namorada. Não preciso mais do que isso”, comemora. Este resultado é apresentado pelo próprio paciente – a moça não foi consultada.

Ser visto pelos colegas – e não pelas mulheres – é uma das causas mais comuns da ida dos homens às clínicas. “O tamanho faz diferença, sim. Se não for pela atividade sexual, é pelo aspecto psicológico”, assegura Romero. Dá-lhe psicologia. “Eles não suportam fazer feio diante dos outros”, diz a psicanalista Maria Beatriz Costa Carvalho. “O homem monta sua auto-afirmação sobre o tamanho e o desempenho do pênis, que considera um símbolo de poder”, declara. Ela explica que esse sentimento é comum na infância e é compreensível na adolescência. “Mas é um problema se o homem, depois de adulto, continua dando ao pênis mais valor do que realmente tem”, avalia.

Preservativo – Para se afirmar diante dos amigos e de possíveis parceiras, o homem faz questão de alardear em público que é bem-dotado, mesmo que isso seja mentira. A professora carioca Esméria Freitas, coordenadora pedagógica da ONG Centro de Orientação e Educação Sexual, presenciou um desses ataques de exibicionismo. Durante palestra sobre uso de camisinha, realizada numa estatal, um funcionário comentou, em tom de galhofa, que não conseguia vestir o preservativo. Ele alegava ter o órgão avantajado demais. “Enfiei a mão numa camisinha e fui desenrolando-a até chegar perto do cotovelo”, conta. Em seguida, Esméria aconselhou ao gaiato que procurasse um médico caso o propalado órgão fosse tão comprido quanto o braço dela. O rapaz pediu desculpas pela brincadeira.


Mesmo que a elasticidade da camisinha seja alta, os usuários ainda reclamam e pedem preservativos maiores e menores, dependendo do caso. Esses desejos começam a ser atendidos pelos fabricantes. No Brasil, conforme as normas estabelecidas pelo Inmetro (órgão regulamentador), a borrachuda não deve ter menos de 16 cm. Mas normalmente ela é produzida com 18 cm. Para este Carnaval, o Ministério da Saúde encomendou 50 milhões de unidades com exatos 16 cm, pensando na folia dos meninos que iniciam cedo a vida sexual. Os que querem uma camisinha maior poderão usufruí-la a partir de fevereiro, quando deve ser lançado o modelo Extra, da Preserv, com 20 cm. A Inal, dona da marca Olla, tem plano semelhante para o segundo semestre. Na prática, a elasticidade de qualquer um dos produtos, com 16 cm ou 20 cm, garante proteção para a grande maioria dos homens.

Os lançamentos de camisinhas maiores e aparelhos para alongar o pênis mostram que o tema tem muito a render. O brasileiro ainda demonstra uma grande insegurança em relação ao seu órgão sexual. Por isso, os urologistas recomendam que os homens procurem orientação médica sempre que surgir dúvida. Ninguém deve comprar soluções no mercado sem checar se há algum problema real. A consulta ajuda a resolver encanações. E vale lembrar que preocupação em excesso afeta o bom funcionamento do pênis.

Colaboraram: Celina Côrtes, Eliane Lobato e Lia Bock

Para recuperar a potência

Desde que o Viagra veio ao mundo, os homens passaram a consumir o famoso comprimido azul como se fosse a pílula da felicidade. Para quem tem disfunção erétil, a solução nem sempre é o sildenafil, o princípio ativo da droga. Isso porque ele atua em um momento específico do mecanismo de ereção, um processo bastante complexo.

O pênis funciona sob ordem do sistema nervoso central: o cérebro é o comandante da ereção . Um dos ramos dessa estrutura, o sistema simpático é inibitório porque controla o fluxo sanguíneo para manter o pênis em repouso. Outro ramo, o parassimpático, é o caminho dos agentes químicos da excitação. Neurotransmissores como a acetilcolina levam aos nervos penianos a mensagem para relaxar as artérias da região e permitir maior entrada de sangue. O corpo cavernoso do órgão se enche do líquido, cresce e comprime as veias que deveriam drenar o sangue para fora do pênis. A pressão é tão forte que os vasos ficam apertados a ponto de quase fechar. Assim, o líquido fica armazenado, produzindo a ereção.

O sildenafil retarda a interrupção do trabalho dos mensageiros químicos que mantêm as artérias e a musculatura peniana relaxadas. Há outros métodos para garantir o prazer. No início do mês, cientistas americanos anunciaram a descoberta de uma molécula (Y-27632), que bloqueou, em ratos, a ação de uma proteína capaz de provocar a contração dos vasos sanguíneos e inibir a ereção. Novos tratamentos estarão à disposição do brasileiro nos próximos dois anos. É o tempo que o urologista Sidney Glina, presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa da Impotência, estima para a chegada de três remédios: o Vardenafil, o IC351 e a Apomorfina. Os dois primeiros atuam como o sildenafil. O último age sobre o sistema nervoso central. De acordo com Glina, opções populares como a garrafada (mistura de pinga com gemada, por exemplo) não funcionam, exceto se o problema for psicológico. “Nos estudos do Viagra, 40% dos pacientes do Brasil responderam bem ao tratamento com placebo”, lembra.

Entre os recursos aprovados pelos médicos, estão as injeções de prostaglandina e papaverina, alternativas baratas. As substâncias inibem uma enzima que interrompe o trabalho dos mensageiros químicos que relaxam as artérias e a musculatura peniana. Seus inconvenientes são a dor da picada e falta de regularidade nos resultados. Mesmo assim o aposentado André (nome fictício), 58 anos, aposta nas injeções. “Como já sabia de casos de insucesso com o Viagra, tentei a papaverina”, diz. Para ele, quem não trata o problema está se destruindo. “A maioria das pessoas é reprimida. Quem sofre disso deve se dar ao direito de sentir a mesma felicidade que estou experimentando”, conclui.


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