A festa pela conquista da Copa João Havelange, feita pelo Vasco da Gama na quinta-feira 18, no Maracanã, foi marcada por hostilidades. O alvo dos torcedores irados não era o adversário, o São Caetano, derrotado por 3 a 1, mas a Rede Globo, que pagou R$ 80 milhões pelos direitos de transmissão do bagunçado campeonato. Depois de responsabilizar a emissora pela suspensão do segundo jogo decisivo em São Januário, em 30 de dezembro, o presidente do clube, Eurico Miranda, colocou o logotipo do SBT nas camisas dos jogadores. Como o contrato entre o Vasco e a multinacional fabricante do sabão em pó que patrocinava o clube, vencido no último dia 31 de dezembro, não foi renovado, Eurico aproveitou a oportunidade para provocar a Globo. No primeiro tempo, quando o Vasco atacava, a Globo abusava dos planos abertos para não mostrar a marca da rival. No terceiro gol vascaíno, na segunda etapa, os atacantes Romário e Euller comemoraram de costas para as câmeras. “Não houve negociação de patrocínio com o SBT”, disse Eurico. “Foi uma homenagem. Não preciso pedir permissão para cantar Parabéns pra você. Na camisa do Vasco, coloco o que quero”, emendou o dirigente.

O locutor Galvão Bueno e sua equipe se esfalfaram para evitar que as ofensas dirigidas à emissora pelos torcedores do Vasco chegassem aos telespectadores. Os câmeras evitavam dar close nas arquibancadas, cheias de faixas contra a Globo. Quando os palavrões eram captados pelos microfones, o áudio externo era anulado e ouvia-se apenas a voz de Galvão. Os xingamentos eram alternados com gritos de “Ah, é Silvio Santos”, “Ão, ão, ão, é o jogo do milhão”, e “Ritmooooo, é ritmo de festaaaa”, música tema do Topa tudo por dinheiro.

A cúpula da emissora paulista parecia não entender o que ocorria. “Não sabíamos de nada. Nosso símbolo não pode ser utilizado dessa forma. Nossos advogados irão tomar as medidas necessárias”, disse a diretora de comunicação do SBT, Ana Teresa Salles. A Globo não quis comentar o assunto. À noite, os editores do Jornal Nacional tentaram evitar a logomarca da concorrente, mas não impediram que ela explodisse no vídeo em seis ocasiões. A audiência média do jogo, transmitido em rede nacional, foi de 31 pontos, com picos de 39. Isso significa que pelo menos 60 milhões de brasileiros viram a logomarca da maior concorrente brilhar na tela da Globo. Para compensar, o JN disparou torpedos contra o chefe vascaíno, também deputado federal pelo PPB. Destacou a representação do deputado Pedro Celso (PT-DF), pedindo a cassação de Eurico, que teria trocado um cheque de US$ 110 mil no mercado paralelo sem registrar a operação no Banco Central.

O quinto parágrafo do artigo 27A da Lei Pelé estabelece que nenhum clube pode ser patrocinado por empresas de rádio e televisão. “O São Caetano teria até 48 horas após a entrega da súmula do jogo para acionar a Justiça Desportiva”, explica o advogado Heraldo Panhoca, especialista em legislação esportiva. “Nesse caso, o STJD teria duas opções: marcar nova partida ou declarar o São Caetano campeão”, completa. “Homenagem a gente presta a quem quer”, diz Eurico. Por ser uma “homenagem” ao SBT e não um patrocínio, o Vasco deverá ter o título confirmado. Mas o homenageado parece não ter gostado do gesto e tudo pode terminar num processo por uso indevido de marca.


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