Na quinta-feira 7, uma corte federal norte-americana determinou que a reunião de dados telefônicos realizada pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) é ilegal.

A atividade tinha o respaldo da Lei Patriótica, criada após os atentados de 11 de setembro. Os juízes definiram que uma seção da lei, que permite também ao FBI compilar registros de telefonemas em casos de suspeita de terrorismo, não poderia ser usada para justificar a coleta em massa de chamadas domésticas. Embora a revelação das escutas tenha chocado muita gente, elas são apenas uma das muitas atividades irregulares mantidas pelo FBI ao longo de seus 107 anos de existência. Grampos telefônicos, prisões e detenções ilegais e invasões de domicílio estão entre as atividades mais comuns na história da agência federal de investigação dos EUA. Sua saga truculenta e repleta de episódios polêmicos é descrita no mais recente livro do jornalista Tim Weiner, “Inimigos: Uma História do FBI”, que chega ao Brasil pela editora Record .

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PODEROSO CHEFÃO
J. Edgar Hoover, diretor do FBI entre 1924 e 1972,
chamado de "Maquiavel americano" no livro

Jornalista investigativo, Weiner ganhou o prêmio Pulitzer por uma série de reportagens sobre os gastos do Pentágono para o jornal “Philadelphia Enquire” e o National Book Award por seu livro anterior,“Legado de Cinzas: Uma História da CIA”. Publicado nos Estados Unidos em 2012, a nova obra é resultado de mais de 2 mil entrevistas e uma pesquisa que inclui a consulta de mais de 7 mil páginas de documentos exclusivos.

O FBI nasceu por vias tortas. Em 1908, o presidente Theodore Roosevelt decidiu criar um serviço de investigação dentro do Departamento de Justiça que não fosse subordinado à nenhuma outra divisão do governo. O projeto foi recusado pela Câmara, que temia a formação de uma polícia secreta, e pelo Congresso, que não aprovou o orçamento. Charles Bonaparte, o procurador-geral, esperou até o recesso do Congresso no final daquele ano para usar o fundo de despesas do Departamento de Justiça e contratar oito agentes em tempo integral. Na ocasião, ele já havia assinado uma ordem para criar uma nova Divisão de Inteligência, com 34 agentes especiais. Segundo o autor, nos anos seguintes, Bonaparte seria obrigado a “mendigar, emprestar ou roubar o dinheiro e os homens” que o presidente queria.

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CATATAU
"Inimigos: Uma História do FBI", que chega ao Brasil pela Editora Record,
percorre os mais de cem anos do serviço secreto

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O escopo das investigações se ampliou e profissionalizou quando J. Edgar Hoover assumiu a diretoria da agência, cargo que ocupou de 1924 até 1972. Atravessando os anos da Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, Hoover foi o nome mais importante do FBI. O livro de Weiner mostra que o investigador era especialista em usar histórias pessoais de figuras públicas. Weiner relata que nem sempre essas informações eram obtidas de maneira totalmente legal, e muitas vezes as pessoas investigadas eram inocentes. Para o jornalista, que cobriu o FBI para o jornal “New York Times” por mais de vinte anos, Hoover foi dos únicos diretores competentes da história do FBI. “Ele não era um monstro. Era um Maquiavel americano”, escreve Weiner.

Após a morte do chefão, a agência entrou em uma fase de sucessivos fracassos em operações que caíram no ridículo pelos erros primários e pela defasagem tecnológica que fazia rir os adolescentes nerds da época.

O jornalista mostra que apenas em 2007, o FBI recuperou seu prestígio com a gestão de Robert Mueller, que deveria ficar apenas dez anos
no cargo, período prorrogado pelos ataques do 11 de setembro. Segundo o livro, embora não tenha a eficácia do tempo de Hoover, a gestão de Mueller salvou a agência do declínio por preservar os princípios de liberdade dos americanos. O que não é inteiramente verdade, pois as denúncias de Edward Snowden, que provam a invasão da privacidade do mundo inteiro pelo governo americano por meio do programa prism também foi largamente usado pelo FBI, sob o comando de Mueller.

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Foto: Album/AKG-Images 


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