Na próxima semana, começa a maratona que aproxima o Brasil do topo do mundo da moda. Durante seis dias, o Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, vai se transformar numa passarela disputadíssima. O MorumbiFashion, o maior evento de moda da América Latina, agora batizado de SP Fashion Week, reforça a versão de que o País das bananas estaria virando um templo da alta-costura. Com acesso restrito a jornalistas e celebridades, o programa já reúne público maior que o do Grande Prêmio Brasil de Fórmula1: 70 mil pessoas, contra as 22 mil que costumam assistir à corrida no autódromo de Interlagos.

Apresentando as coleções de outono e inverno, que estarão à venda nas lojas em março, a SP Fashion Week terá desfiles de grifes veteranas, como Alexandre Herchcovitch e M.Officer – que pagou US$ 30 mil para ter Gisele Bündchen no ano passado e agora deve repetir a dose – e promoverá calouros, como o estilista mineiro Ronaldo Fraga e a grife paulista Carlota Joaquina. Na tentativa de firmar-se como a temporada de moda oficial da América Latina, a SP Fashion Week apresentará Martin Churba e Jessica Trosman, estilistas argentinos de sucesso em Nova York. “Nossas roupas são sensuais como os brasileiros, eles só não haviam sido apresentados”, brinca Churba. O governo da Argentina já garantiu a presença de Antônio de la Rúa, o filho do presidente Fernando de la Rúa, mas as visitas mais aguardadas, no entanto, são as dos jornalistas de publicações como Vogue, Elle e o jornal londrino The Sunday Times. Sem contar uma dezena de representantes de grandes redes internacionais de lojas, como a francesa Galeria Lafayette e a inglesa Bergdoff Goodman. “A mudança de nome facilita a identificação com os jornais internacionais”, empolga-se o estilista Tufi Duek.

A decoração do espaço, assinada pelo arquiteto Isay Weinfeld, contará com um túnel negro e dois andares de atrações, como uma exposição dos figurinos originais de Carmen Miranda, uma filial do restaurante Ritz, um cyber café e uma livraria. Por trás das engrenagens do Fashion Week, a um custo de R$ 8 milhões ao ano, brilha o produtor Paulo Borges, 38 anos. Borges foi até o presidente Fernando Henrique Cardoso, em novembro passado, convidá-lo para o evento e pedir a devida atenção para uma indústria responsável por 3,6% do PIB nacional, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção. FHC ainda não respondeu ao convite, mas Borges já está lá na frente. Até o fim do ano, promete agitar o setor com a criação da Câmara Brasileira de Moda e do Instituto Brasileiro de Moda. Em março, planeja lançar o livro Backstage. Os concursos de modelos certamente serão abordados na obra. “É o dinheiro dos patrocinadores que ajuda as agências a financiar headhunters para descobrir meninas bonitas em todos os cantos do País. Nenhum concurso revela grandes modelos. É uma tapeação”, diz Borges. A mágoa com a imprensa pelo massacre da modelo Fernanda Tavares e suas celulites no noticiário também constará no livro. “Precisava dar close no bumbum dela? Celulite existe na bunda de todo mundo. Modelo não é boneco. Falta cultura de moda no Brasil”, protesta Borges. 

Maconha e celulite
Nelson Almeida/AE
Tem droga na passarela

O organizador do SP Fashion Week, Paulo Borges, acha um equívoco pensar que o uso de drogas é comum no mundo da moda e desmente a declaração do empresário americano John Casablancas, de que a modelo Gisele Bündchen fuma maconha. Afastado da agência Elite Models e atualmente dirigindo a empresa de organização de eventos Illusion 2K, Casablancas, 58 anos, revidou ao ataque.

Paulo Borges – “É um erro generalizar e dizer que a moda é sinônimo de drogas. Não tem droga no meu evento. Se tiver, é porque a pessoa já veio drogada e, se eu perceber, mando embora.”

Casablancas – “Tem que ser cego ou hipócrita para dizer que não há drogas no mundo da moda. Ele só fez essa declaração para ficar bem com seus clientes e com Gisele, que é uma semi-deusa no Brasil.”

Borges – “Gisele não é maconheira. É uma garota saudável, alegre, divertida. Casablancas é um grande negociador. Deu essa declaração porque não queria perdê-la, pois nunca uma modelo chegou onde ela está. Ele manipulava resultados de concursos no Brasil. Dizia: ‘É esta quem tem de ganhar.’ Em 1992, no Phytoervas Look, da Elite, criou um quiproquó entre os jurados.”

Casablancas – “Nunca aceitei o fato de Gisele ter deixado a Elite. Borges sabe disso e me calunia porque estou organizando a temporada de desfiles Moda in Miami – Fashion Week of the Americas, que vai concorrer com a dele. Todos os concursos têm brigas. Em 1992, o júri escolheu uma mulata de pernas curtas. Gasto US$ 150 mil por concurso e tenho direito a veto. Por que não escolheria a mais adequada?”