Progredir na vida é o sonho de todo mundo. Construir um patrimônio sólido, não se apertar no fim do mês e ser dono do próprio nariz são metas de quase todos os que vivem de salário. Nos anos de hiperinflação, a preocupação dos brasileiros era descobrir como manter o poder de compra. Com a estabilização da economia, o País entrou na era do crescimento sustentado e o foco das pessoas mudou: elas agora querem estratégias para ficar ricas ou se tornar empreendedoras de sucesso. Acumular capital é um sonho impulsionado pela globalização que tem ampliado as oportunidades de crescimento em diversos nichos e nações, inclusive no Brasil. Ou seja, há mais chances de alguém atingir o topo das camadas sociais. Com o cenário atual fica claro que a tão desejada conquista da fortuna não precisa ser fruto de negócios escusos nem de sorte na loteria.

ATENÇÃO ÀS OPORTUNIDADES
A história do carioca Arthur Costa, 50 anos, dono de uma empresa de recursos humanos, joga por terra a idéia de que, para ter sucesso financeiro, é preciso definir logo a área de atuação. Filho de uma costureira, ele colecionou diversas tentativas de ganhar dinheiro até acertar o alvo. Foi radialista, empreiteiro, vendedor de jazigos. Em 1994, abriu uma empresa de fornecimento de mão-de-obra terceirizada, a Personal Service, que este ano deve faturar R$ 180 milhões. Para vencer, Costa explorou ao máximo duas qualidades: perseverança e ousadia. "Atrevimento foi meu segredo." Seu primeiro passo foi matricular-se aos 18 anos em um curso de videoteipe, em busca de emprego em uma tevê que pagava a universidade dos funcionários. Depois, abriu uma empresa de venda de sacos para lixo e uma companhia de obras para fazer instalação de tubos no Rio. Com quase 40 anos, interessou-se por recursos humanos. "Percebi que as empresas estavam terceirizando serviços." Foi aí que montou a Personal Service. Sua experiência mostra que um empresário deve acreditar no potencial das pessoas e não desanimar diante dos sacrifícios.

Ter disciplina financeira e boas idéias são atualmente as receitas mais seguidas por quem planeja ser chamado de rico. De fato, estar atento a oportunidades de negócios e reduzir desperdícios são os primeiros passos. Mas o que se nota é que há muito mais elementos a compor a escalada rumo ao mundo dos endinheirados. Prova disso é a profusão de livros que apontam esses caminhos. Há uma febre de obras de auto-ajuda financeira. Este ano foram lançados até agora cerca de 20 livros sobre o tema, contra 11 em 2006. Na luta para aumentar a fortuna, milhares de pessoas recorrem a cursos, palestras e feiras especializadas. Recentemente, mais de 20 mil interessados acompanharam a 5ª edição da Expo Money, evento em São Paulo com 175 painéis que discutiam, entre outros assuntos, como conquistar e manter a independência financeira. O evento nasceu na capital paulista e hoje acontece em outros sete municípios ao longo do ano – o próximo será em Belo Horizonte, no final do mês. "O tema educação financeira entrou definitivamente na agenda das pessoas", diz Robert Dannenberg, presidente da TradeNetwork, organizadora da Expo Money.

REDE DE 130 LOJAS
Filho de dentista, Robinson Shiba seguiu naturalmente o caminho do pai. Formou-se em odontologia aos 22 anos e, com a ajuda da família, montou o primeiro consultório. Dando duro das 8h às 21h, três anos depois tinha três consultórios próprios (cada um custou em torno de R$ 60 mil) e arrendava dois. O futuro parecia promissor, mas Robinson resolveu apostar em outro ramo. Em 1992, abriu um restaurante para entregar comida chinesa. O diferencial é que a comida vinha em caixas e dispensava prato, seguindo o modelo, ainda inédito por aqui, que ele havia conhecido nos Estados Unidos. Com um investimento inicial de R$ 120 mil nasceu o China in Box, rede que hoje tem 130 franqueados no Brasil, iniciou as operações no México e faturou no ano passado R$ 27 milhões. O início foi difícil. "Nos primeiros três anos eu não tinha fim de semana nem feriado", conta. Mas compensou. "Tenho certeza de que estou melhor hoje do que se atuasse como dentista", diz Robinson, 40 anos. Ele leva uma vida regrada – "recebo salário como os outros funcionários" -, mas sabe curtir os bons momentos. Passa os fins de semana na praia e, pelo menos uma vez por ano, viaja para fora com a mulher e os dois filhos.

Uma das questões que rondam a mente de quem sonha faturar alto é o que é exatamente ser rico. No País, a renda é tão concentrada que fica difícil distinguir os que estão bem de vida dos milionários. Para o IBGE, os dois grupos se enquadram na última faixa da pirâmide social. Dentro da estreita faixa do 1% mais ricos estão 872 mil brasileiros que receberam, em média, R$ 11.321 por mês em 2006. "A classe média, que tem apartamento e carro, não chama de rico quem ganha R$ 10 mil mensais, mas o cara mais pobre do Nordeste chama", pondera Cymar Azeredo, pesquisador do IBGE. Para o empresário inglês Felix Dennis, autor de How to get rich (Como ficar rico, em português), lançado este ano no Reino Unido, o estado de riqueza que se pode batalhar para atingir é aquele em que a pessoa tem condições de se aposentar – se quiser -, desfrutar do tempo, morar onde desejar, comprar um belo barco e velejar ao pôr-do-sol.

HORA DA MUDANÇA
Algumas pessoas querem dinheiro para evitar dificuldades no futuro. Outras, como caminho para viver bem, em paz. Este é o caso da publicitária Christina Carvalho Pinto, 56 anos, empresária que consegue conciliar o trabalho com dedicação à família e engajamento social. Aos nove anos, ela escrevia contos.Depois, partiu para o balé e se formou em piano. A publicidade não estava em seus planos. Foi pela necessidade de emprego que Christina aceitou, aos 17 anos, um estágio em agência de propaganda. De lá para cá, tornou-se uma profissional bem-sucedida e rica. "Só faço aquilo que acho certo", diz. Após oito anos na presidência da Young & Rubicam na América Latina – uma grife no mercado de comunicação -, Christina sentiu que era hora de mudar
. Abriu, com dinheiro poupado e resgate de investimentos, sua agência em 1996, a Full Jazz, grupo de comunicação de capital 100% nacional e de porte médio. Numa ocasião, perdeu o contrato de duas marcas fortes. Mas Christina focou nos clientes de pequeno porte e ampliou a oferta de serviços. Hoje, ela dedica um terço de seus rendimentos a projetos sociais. Christina tem condições para isso. "Minha receita é abrir caminhos para novas formas de pensar, sem esquecer meus valores."

Já que é assim, quais são, afinal, os segredos para enriquecer? De acordo com Dennis, um milionário do setor de comunicação, a regra de ouro – se a pessoa não tem talento para ser fenômeno do futebol ou astro da música pop – é ter o próprio negócio. "Ser dono da empresa é a única coisa que conta", garante. Segundo ele, na corrida pela fortuna, a pessoa pode até não ter muitas habilidades ou mesmo não ter sido tão abençoada pela inteligência, mas se ela estiver firme no propósito de deter 100% da companhia sonhada, então, tem chances de enriquecer. Thomas Harrison, CEO da Diversified Agency Services (DAS), divisão do Grupo Omnicom (maior empresa do mundo em prestação de serviços nas áreas de comunicação e publicidade), concorda e defende até a existência de um DNA empreendedor. "Quem não tem isso no código genético pode adotar estratégias para compensar a ausência do DNA", sustenta.

DE GARÇOM A MILIONÁRIO
O sotaque não mudou, mas o patrimônio do cearense Antonio Rodrigues Pinto se transformou completamente: em dez anos cresceu 200 vezes. Aos 15 anos, ele vendeu uma ovelha e comprou passagem para o Rio de Janeiro. Era 1983 e, no início, lavava pratos em um bar. Depois virou garçom. "Os colegas só queriam atender gringos para ganhar em dólar. Eu tinha gorjeta até no inverno porque atendia bem a todos", recorda. Em quatro anos, morando em quarto alugado e trabalhando 15 horas por dia, comprou um boteco, no centro do Rio. Em 1997, adquiriu por R$ 90 mil outro bar decadente: o Belmonte, na praia do Flamengo. Hoje, a casa é badalada. Existem mais seis unidades. A rede conta ainda com dois bares, chamados Antonio’s. Com o movimento, o grupo recebe em caixa cerca de R$ 20 milhões ao ano. A dica de Antonio é poupança, trabalho sem limite e rigidez nos negócios.

Além da regra de ouro, Dennis tem mais sete dicas aos que anseiam pela fortuna: analisar suas necessidades, eliminar influências negativas ("Nunca desista"), não se contentar com grandes idéias, e sim pensar na melhor maneira de executá-las, manter foco no plano ("O dinheiro está aqui"), contratar funcionários talentosos e espertos, aprender a negociar e não ter medo de arriscar. Para se ter empresa, claro, é preciso de dinheiro. Mesmo nesse sentido, há opções. Conforme o publicitário Roberto Justus, do grupo Newcomm, o capital nunca foi tão farto. "O dinheiro está aí. Há fundos de private equities (que compram participações em empresas), empresários que venderam seus negócios e não sabem onde investir, financiamento bancário", diz ele, que lançou recentemente o livro O empreendedor.

CAPITAL EXTRA PARA VIAJAR
Os consultores de tecnologia Ricardo Kenji e Morgana Multini começaram a namorar na faculdade, em 1994. Apaixonados, decidiram morar juntos, mas o plano esbarrou na falta de dinheiro. A renda dos dois não chegava a quatro salários mínimos. Decidiram que tudo seria definido em conjunto e com planejamento. "Nunca deixamos de nos programar. Fazíamos planilhas no supermercado e anotávamos cada gasto", conta Kenji, hoje assessor de uma gigante da informática. O comportamento do casal foi decisivo para a revolução no patrimônio da família. Uma estratégia era minimizar o risco de situações inesperadas. Quando Morgana mudou de emprego, uma reserva foi destinada a cobrir um eventual rombo, se o trabalho não desse certo nos primeiros meses. O casal poupou, mas também investiu em ações. Desse modo, quitou um apartamento novo em cinco meses. Agora eles vivem em uma casa grande, possuem dois terrenos, uma chácara, carros e aplicações financeiras. O casal pode gastar em viagens, que faz com freqüência. Em 2006, por exemplo, Kenji e Morgana fizeram uma viagem para o Havaí em alto estilo.

Na opinião do administrador Gustavo Cerbasi, autor dos livros Dinheiro – o segredo de quem tem e Casais inteligentes enriquecem juntos, devese combinar boas escolhas com determinação. Aos 26 anos, ele era professor de matemática e prometeu que em 15 anos teria seu primeiro milhão. Em cinco anos, alcançou o objetivo. Cerbasi se valeu até de uma adversidade. Seu carro foi roubado e ele pegou o que recebeu do seguro para aplicar em ações. Empolgado com os rendimentos, vendeu o apartamento e voltou a morar com os pais. O salto aconteceu nos primeiros anos do governo Lula. "O índice Bovespa quadruplicou e meu patrimônio cresceu junto", conta.

PATRIMÔNIO DE R$ 600 MILHÕES
Lírio Parisotto nasceu em Nova Bassano, cidade gaúcha de oito mil habitantes. Ele cresceu em uma casa sem luz elétrica nem telefone. Na adolescência, percebeu que o campo não era o seu lugar. Partiu para a cidade com 13 anos e trabalhou como mascate. Aos 18, voltou para o interior, onde vivia de transportar pessoas em uma Kombi. Formou-se em medicina, mas nunca exerceu a profissão. Não via futuro na carreira. Foi quando surgiu o interesse pelo comércio. Estava com 27 anos e um cliente lhe ofereceu um espaço comercial como pagamento de dívida. Parisotto transformou a loja em videolocadora. Para captar mais recursos, comprou equipamentos eletrônicos velhos para revender. Seu segredo foi reinvestir e evitar desperdícios. Em 1985, percebeu que ganharia mais produzindo fitas e assim se tornou um dos fundadores do mercado brasileiro de vídeo. Sua empresa, a Videolar, trabalha com serviços sob encomenda – gravações em CDs e DVDs – e legendagem de filmes. A companhia acumula um patrimônio líquido de mais de R$ 600 milhões. Seu recado? Administrar bem. "Tudo o que sobra tem de voltar para o negócio". Outra dica é inovar. Em 2008, Parisotto se dedicará a pesquisar mercados em expansão.

Por outro lado, há quem diga que ninguém ficará rico lendo as obras de auto-ajuda financeira. "Quem ganha dinheiro mesmo é o autor", diz o professor de finanças Keyler Rocha, da Faculdade de Economia e Administração da USP. Segundo ele, para que as estratégias ensinadas nos livros funcionem, a pessoa precisa ter um interesse profundo no mercado financeiro, além da natureza voltada para os negócios. De todo modo, o professor de economia Ricardo Almeida, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, de São Paulo, pondera: "A pessoa pode não ficar rica, mas pelo menos aprende a não perder dinheiro e a administrar aquilo que já tem." É um bom começo.

Colaborou Aziz Filho