Clássicos, raridades e best-sellers revestem as paredes de uma das salas da casa de Claive Vidiz, um executivo da indústria farmacêutica que vive em São Paulo. Seu precioso acervo compreende 3.384 títulos. Vidiz é apaixonado por malte escocês e suas prateleiras ostentam a maior coleção de garrafas de uísque do mundo. Por esse motivo, seu nome aparece desde 1993 no Guinness Book, o livro dos recordes. Aos 72 anos, o colecionador ainda resiste à tentação de abri-las. No cotidiano, prefere destilados, digamos, comuns – especialmente os que estiverem em promoção. Na última semana, abriu diversas garrafas para brindar com os amigos a transferência da coleção para o Castelo de Drummuir, na Escócia, uma espécie de embaixada da Diageo, dona de grandes marcas como Johnny Walker, J&B, Black & White, Bell’s e White Horse. A empresa acaba de arrematar o acervo e promete deixá-lo em permanente exposição em uma sala com o nome do brasileiro. O castelo, construído no século XIX, é palco de eventos empresariais e casamentos e oferece suítes para os peregrinos que percorrem os caminhos do malte escocês. “O bom filho à casa torna”, emociona-se Claive Vidiz, satisfeito por realizar um sonho. “A coleção entrará para o roteiro turístico da Escócia e será admirada por um número expressivo de pessoas que apreciam uísque e que jamais viriam ao Brasil”, comemora. Perguntado sobre cifras, Vidiz desconversa. Diz apenas que a venda não foi motivada por dinheiro, e sim pela certeza de que as garrafas serão mais bem aproveitadas na terra do malte. “Manter uma coleção dessas no Brasil é o mesmo que encontrar um louco na Escócia com três mil e tantas garrafas de pinga”, compara. Seu acervo inclui rótulos sagrados como um John Dewar & Sons (o Dewar’s atual) engarrafado em 1893 e uma edição especial de Bell’s em cerâmica estampada com um retrato dos recém-casados príncipes Charles e Diana, de 1981. Há ainda dezenas de garrafas em cristal Baccarat, como alguns exemplares de Royal Salute lançados em 1953 para celebrar a coroação da rainha Elizabeth II. Finalmente, há espaço nas prateleiras para as primeiras seis garrafas de sua coleção, presenteadas há quase 40 anos por um colega escocês da multinacional em que Vidiz trabalhava. Aliás, a paixão de Vidiz pelo uísque começou por exigência do chefe, que não se conformou ao descobrir que seu funcionário, aos 30 e poucos anos, só bebia guaraná. “Ele me puxou a orelha e disse que, se eu queria ter futuro como executivo, tinha de aprender a apreciar pelo menos uma bebida alcoólica para consumir nos compromissos sociais”, conta. Claive Vidiz largou o guaraná e deu início à jornada que o transformaria em uma espécie de embaixador do uísque. Agora no papel de consultor da Diageo, continuará à caça de garrafas raras para serem adquiridas pelo museu. Pelo menos deixará de gastar o próprio dinheiro na brincadeira.