08/05/2015 - 20:00
Óculos usado longe das câmeras corrige 1 grau de hipermetropia e muda o semblante do Fenômeno. Fora dos gramados há quatro anos, Ronaldo abriu o campo de visão desde que encerrou a carreira de jogador. Na trajetória de empresário, acaba de lançar rede de franquias de academia de futebol, Ronaldo Academy.
"Eu ligo para o Fernando Henrique para pedir conselho, opinião.
A gente costumava jogar pôquer juntos"
Influente, engraçado e polêmico, ele mergulhou na política no ano passado para ajudar o amigo e senador Aécio Neves (PSDB-MG). Tomou tanto gosto que participou em São Paulo da manifestação do dia 15 de março. Ronaldo faz críticas a Dilma e à CBF. Conta que se depender dos planos de Aécio, será um dia ministro dos Esportes. Na semana passada, sua vida amorosa virou notícia novamente no programa CQC, da Band, onde admitiu que a ex Daniella Cicarelli teria destruído sua casa.
"A CBF só pensa em aumentar o faturamento. Para mim,
é como se a CBF não estivesse fazendo nada"
Numa brincadeira de verdadeiro ou falso com o CQC, da Band, você confirmou que Daniela Cicarelli, quando era sua mulher, destruiu sua casa na Espanha ao saber de uma bobagem. Qual foi a bobagem?
Ela viu um email que não tinha nada demais e interpretou de forma errada. Não era e-mail de outra mulher, nem nada. Mas não vou entrar em detalhes. Foi bobagem o que aconteceu e ela ficou muito nervosa, levou muito a sério. Já está tudo resolvido e faz muito tempo. Mas a única coisa que ela quebrou foi um computador novinho.
Como é sua relação com as suas ex-mulheres?
Eu só tenho com as mães dos meus filhos. Das ex, só com a Milene e a Bia, o que já é muito. Tenho duas ex-mulheres e um deslize. A primeira não é ex-mulher. Eu encontrei com ela (Cicarelli) em Miami outro dia. Nos cumprimentamos rapidamente e só.
Você também contou que o chulé do seu pai num vôo afugentou a Gisele Bündchen na primeira vez que você a viu. Quando foi isso?
Essa história é muito engraçada e provavelmente a Gisele nem lembra. Eu jogava na Inter de Milão. Acho que foi em 2000. Mas aconteceu mesmo e até hoje eu brinco com o ‘seu Nélio’ sobre isso. Foi a única vez que encontrei a Gisele na vida. Meu pai tirou o tênis e ficou aquele chulé na primeira classe. Ela se cobriu durante o vôo e eu nunca mais vi a Gisele. Assim que o avião pousou, ela foi a primeira a sair, em busca de oxigênio.
Em época de crise você está lançando a rede de franquia Ronaldo Academy Sport, com um investimento inicial de US$ 10 milhões. Por que?
Acho até melhor investir nessa hora do que quando está tudo bem. Em vez de só reclamar do momento político econômico e até mesmo do futebol, a idéia é fazer esse negócio acontecer. Para mim, é lindo ver realizar esse sonho. Quando eu era criança em Bento Ribeiro (subúrbio do Rio), havia vários campos de futebol e eles foram sumindo, dando lugar a prédios. O que a gente quer é espalhar a academia de futebol por todos os bairros e países para que o futebol seja realmente uma saída, uma oportunidade de vencer na vida, sem ter que entrar para o caminho errado. A gente vive nessa carência de ídolos, de craques de futebol e a gente vê que não há no Brasil um trabalho elaborado e de formação de atletas e cidadãos.
Você se engajou na campanha do senador Aécio Neves no ano passado. Como observa a crise política?
É uma faxina geral no nosso País. Principalmente o escândalo da Petrobras e o descaso dos políticos envolvidos nessa operação Lava-Jato. O que foi feito é trágico.
Você é a favor do impeachment da presidente Dilma?
Não sei. Não entendo como seria, quem entraria, o que aconteceria. Mas o povo quer mudança. Eu apoiei o Aécio na campanha para presidente. E continuo acreditando no potencial dele. Acho que inevitavelmente ele vem em 2018 tomar o lugar que deveria ter sido dele já no ano passado.
Além de ir à manifestação de 15 de março, você também fez panelaço?
Não fiz. Mas acho que o sentimento de mudança é esse. O povo está cansado de mensalão, de Petrolão, de corrupção. A gente não tem que ter pena. Precisa ter uma legislação mais severa para os nossos representantes.
Como vê o governo Dilma?
Hoje, depois de você ter enfrentado tantos altos e baixos, polêmicas, o que aprendeu sobre reputação?
Depois da minha imagem consolidada, ficou mais fácil de entender e poder passar isso adiante. O Anderson Silva, por exemplo, quando chegou para trabalhar conosco na 9ine era campeão mundial de UFC e não era conhecido no Brasil. Nós o transformamos num ídolo nacional, logicamente com o talento dele, e a nossa orientação. Com as experiências que eu tinha do passado com a minha imagem, acertando, errando, percebi que tinha habilidade para fazer isso.
Mas quais são as lições de Ronaldo para administrar crise?
O importante é não deixar a crise chegar.
Mas e quando as crises chegaram para você?
No meu caso, o povo me perdoou algumas vezes. Sou grato por isso. Tive algumas crises mas a gente vai levando.
Você já disse que o País ficou traumatizado com o 7 a 1. Qual foi a diferença entre o Brasil perder a Copa em 1998, quando houve o trauma da convulsão do Ronaldo, e a seleção perder de 7 a 1 para a Alemanha?
Não tem diferença entre perder de 7 ou perder de 3. Em 1998, tive o problema, mas joguei. O caminho dessa resposta vai pela nossa cultura. O Brasil sempre foi reconhecido como melhor futebol do mundo. O brasileiro se acostumou com isso. Perder Copa do Mundo é como se desmoronasse um castelo. Ninguém entendeu aquele 7 a 1, de nenhuma perspectiva. Era tão improvável. Aquilo já não se tratava de algo tático ou motivacional. Tal como foi em 1998, quando a França deu um show de bola, a Alemanha ganhou a Copa porque deu um show de bola. Prefiro acreditar que o Brasil perdeu em casa, com uma surra dada por uma aula de futebol.
Hoje, 17 anos depois, você consegue explicar melhor o que aconteceu com você na Copa de 1998?
Minha explicação é a única que eu tenho. Tive uma convulsão pouco depois do almoço. E em seguida me contaram que até então eu não tinha nenhum conhecimento e só sentia dores do corpo, como se eu tivesse jogado um jogo de futebol. Foi uma convulsão forte, mas a minha única preocupação naquela hora era saber se eu estava bem. Minha coragem foi de ir para o hospital fazer exames para saber se jogar não colocaria minha vida em risco.
A CBF acabou de trocar o comando. Apesar do 7 a 1, a CBF faturou R$ 500 milhões com a Copa. Acredita numa nova fase?
As autoridades brasileiras não estão sabendo aproveitar o legado da Copa. O faturamento da CBF é como o de uma multinacional. Eu não sei o que a CBF faz para fomentar e desenvolver o futebol. Não sei se eles fazem trabalho para comunidades carentes com esse faturamento. Se faz não divulga. Então para mim é como se a CBF não tivesse fazendo nada. A CBF tem potencial grande para desenvolver o futebol e não faz. E fica pensando só em aumentar o faturamento, sem fazer do futebol uma organização melhor.
Zidane disse recentemente que apesar de admirar jogadores como Messi e Cristiano Ronaldo, nenhum deles o faz sonhar. Quem te encanta hoje?
Eu penso igual ao Zidane. Ele é meu amigo e a gente conversa muito sobre o futebol atual. Hoje ele é treinador, coisa que eu não quero de jeito nenhum. A pressão é a mesma, só que não é você que está em campo. Do mesmo jeito que o Zidane disse, acho o Messi incrível, o Cristiano Ronaldo incrível, o Neymar é incrível, mas o futebol no mundo está carente de craques.
Você pensa em ser político?
Quem não é político nesse mundo? Todo mundo tem que ser político. Por enquanto não penso, estou muito envolvido nos negócios. Mas durante a campanha, a interação com o povo me emocionou. Rodei cidades com Aécio, e nas ruas a sensação era de um desejo compulsivo por mudança.
E ser ministro dos Esportes?
O Aécio quer (que eu seja ministro). Ele quis muito na campanha passada. E se ele quer, vai ser uma honra e um desafio muito grande. Mas eu não sei se estou preparado. Eu adoro desafios, mas não percebo isso ainda.
Você tinha uma relação com Lula. E hoje?
Faz algum tempo que não encontro com Lula. Quando jogava no Corinthians, a gente se via. Mas cada um foi para o seu caminho. Eu comecei a ter minhas opiniões políticas, e talvez não tenham agradado a ele, mas a gente sempre teve uma relação boa. Ele fez coisas boas para o País, agora ele tem que mostrar essas coisas ruins. O povo quer saber e não aparece ninguém para dizer. Quando eu errava um pênalti, eu falava: bati mal, a culpa é minha. Perdemos pois errei. Não vemos isso na política.
Com quem você se aconselha?
Fernando Henrique é o primeiro que eu ligo para pedir um conselho, opinião. A gente costumava jogar pôquer juntos, jantar. Já me aconselhei com ele várias vezes. Há seis anos eu tentei juntar o Lula e o Fernando Henrique num encontro na minha fundação. Consegui o ok dos dois. Só que uma semana antes, um deu para trás.
Quem?
Já passou. Era para falar sobre o Brasil, mas não rolou.
Você voltará a jogar no seu clube nos Estados Unidos?
Tem muita chance. Quero muito. Não sei se vou conseguir. Sinto dor muscular quando jogo. Eu parei de jogar por causa de uma pubalgia. Foi a pior dor que eu senti na a vida e eu perdi para essa dor. Eu espirrava e sentia um bisturi me cortando.
O Brasil implica com seu peso. já virou até esporte dizer que Ronaldo está gordo. Você se acha gordo?
O Brasil é um país obeso. Não sou obeso. Eu tenho 13% de gordura no corpo e sou ativo. As pessoas acostumaram de ver aquele menino magrinho. Eu sofro um problema de hipotiroidismo.
Sua namorada disse que você não tem barriga, tem lordose. É isso?
Eu tenho lordose e a bunda grande também, empinada para trás. Mas na educação física o que vale é o percentual de gordura. As pessoas querem essa brincadeira: Ronaldo tá gordo, tá magro. Elas se alimentam disso. A gente vive na era da internet, que é todo mundo sacaneando todo mundo. Mas eu não me importo.
E como está no amor?
Estou apaixonado. A Celina (Locks) é uma parceira. Uma companheira bacana, presente, trabalhadora, humilde, linda. Ela já se integrou com meus filhos. Para a minha idade e para o meu status, tudo o que eu tive de relacionamento é pouco. Um sujeito da minha idade teve a vida toda finais de semana, feriados, viagens. Eu não.
Isso quer dizer que eu posso ter tido uma adolescência tardia (risos).