08/05/2015 - 20:00
Excepcionalmente nesta semana quem assina a coluna de Luiz Fernando Sá é o diretor de Núcleo da Editora Três e coordenador das revistas IstoÉ Dinheiro, Dinheiro Rural e MotorShow, Milton Gamez
Em janeiro de 1961, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy cravou na história o célebre chamamento aos americanos: “Não perguntem o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país”. Na platéia, estava um contrariado Richard Nixon, candidato derrotado por apenas 80 mil votos e pequena margem no colégio eleitoral. Kennedy foi assassinado no final de 1963 e Nixon, eleito presidente em 1968, também fez história ao renunciar ao segundo mandato, seis anos mais tarde. Ele sabia da espionagem contra o Partido Democrata, de oposição, e jogou a toalha para escapar do inevitável impeachment, na esteira do escândalo Watergate.
Essas cenas me vieram à cabeça durante o panelaço da terça-feira 5. Enquanto o programa do PT na tevê tentava me convencer de que o partido de Lula e Dilma promoveu justiça social, desenvolvimento econômico e combateu a corrupção, permitindo que ladrões da Petrobras fossem investigados e presos, alguns de meus vizinhos batiam panelas e insistiam no afastamento da presidente. Será que Dilma sabia da roubalheira na Petrobras? Faltam provas do crime de responsabilidade ou apenas uma fonte como Garganta Profunda, o diretor do FBI que orientou os repórteres do “The Washington Post” a desvendar os delitos da Casa Branca? Ao seguirem as trilhas do dinheiro e das delações premiadas, os investigadores da operação Lava Jato chegaram a empresários e políticos graúdos, mas isso não quer dizer que estão dados os instrumentos para forçar Dilma a descer a rampa antes da hora. Os partidos de oposição, PSDB à frente, parecem ter desistido do impeachment já, mas não dão trégua no Congresso e, juntos com o situacionista PMDB, dificultam o quanto podem a aprovação das medidas de ajuste da economia propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O petrolão e a crise política provocaram uma nociva paralisia nos investimentos das pessoas e das empresas, agravando os efeitos da política econômica anterior e ampliando as demissões. Tão importante quanto a política, é a economia que vai dar o tom da adesão popular aos protestos anti-Dilma. Não há popularidade que resista ao crescimento do desemprego e ao achatamento dos salários pela inflação elevada. O Brasil avançou na redução da pobreza e não pode tolerar um retrocesso nessa área. Como disse Kennedy no mesmo discurso de posse, “se uma sociedade livre não pode ajudar os muitos que são pobres, também não pode salvar os poucos que são ricos”. É verdade que o democrata estava mais preocupado com o comunismo e a Guerra Fria com a União Soviética do que com a justiça social, mas isso não tira o mérito da afirmação. Felizmente, o humor de muitos executivos, empresários e investidores nos mercados financeiros começa a mudar para melhor em relação ao Brasil. Nas últimas semanas, uma avalanche de dinheiro novo provocou a alta das ações na Bovespa, o dólar caiu e o risco-país encolheu. Grandes empresas nacionais e estrangeiras anunciaram novos investimentos. Enquanto alguns demitem e choram por mais benesses do governo, outros investem e ajudam a amenizar o impacto social da crise. Reclamar é necessário, mas trabalhar e crescer é imprescindível. E você, o que está fazendo pelo Brasil?