Coube ao primeiro secretário da mesa diretora do Senado Federal, o petebista Carlos Wilson, a fúnebre missão de ler em plenário a carta de renúncia de Jader Barbalho, na manhã da sexta-feira 5. E as exéquias foram pouco concorridas. Dos 81 senadores da República, além do presidente da Casa, Rames Tebet, apenas três – isso mesmo, três senadores – ouviram o representante do Estado de Pernambuco ler o texto, um manuscrito de poucas linhas e muita revolta, entregue na casa do presidente do Senado por uma assessora de Jader, na noite da quinta-feira 4.

Carlos Wilson teve platéia bem maior, e merecida, no dia anterior. Estavam no plenário 51 senadores quando o petebista, usando números estarrecedores da FAO, o organismo da ONU que trata da questão alimentar, denunciou a existência de uma população superior a 830 milhões de famintos no mundo. E entre eles constam 16 milhões de brasileiros – cerca de 10% da população que passa fome. Segundo o senador, “salta aos olhos o caso específico do Brasil, onde os recursos do Estado são drenados pela corrupção ou para o pagamento de dívidas internacionais”.

• Outros números bastante significativos foram compilados pelo líder do PSB na Câmara, Alexandre Cardoso, e se referem ao Afeganistão: são quase 26 milhões de habitantes, dos quais dez milhões passam fome; entre 1.000 crianças nascidas, 151 morrem; cerca de 80% das mulheres e 50% dos homens são analfabetos; apenas 12% da população dispõe de água tratada e menos de 2%, de esgoto.

Agora alguns números da máquina de guerra dos Estados Unidos, ainda segundo o deputado do PSB: cada um dos porta-aviões deslocados para a região gasta, em média, por dia US$ 5 milhões; um avião B-2 Spirit custa US$ 2,2 bilhões; um míssil Tomahawk não sai por menos de US$ 8 milhões; cada um dos cerca de 240 aviões baseados nos porta-aviões custa, por volta de US$ 50 milhões.

A conclusão aparentemente óbvia a que chegou o deputado será enviada por ele à abertura da Assembléia-Geral da ONU. Ou seja: seriam necessários apenas três aviões B-2 Spirit para sanear todo o Afeganistão com água e esgoto, usando-se para isso o custo médio internacional por habitante: US$ 250. Para o deputado, US$ 180 milhões seriam suficientes para acabar com a fome dos dez milhões de miseráveis afegãos. Bastaria, para isso, que três dos porta-aviões americanos ficassem ancorados em qualquer porto do mundo durante 12 dias.