São necessárias pelo menos quatro horas e meia para se ver com um mínimo de atenção as 260 obras de 140 artistas da mostra Parade, espécie de inventário da arte do século XX, feita através do riquíssimo acervo do Centro Georges Pompidou, em Paris, que pela primeira vez se desloca para o Brasil. A mostra preenche o vasto período de 1901 a 2001, através de pinturas, esculturas, instalações, cinema, música, videoarte e arte-cinética afinada com a filosofia do Pompidou, que estimula o encontro de diversidades. Ao final do percurso dos 10.720 metros quadrados de superfície da Oca, como é conhecido o pavilhão Lucas Nogueira Garcez, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, o visitante vai estar exaurido, mas feliz diante do volumoso acervo do museu francês, que no total abriga 50 mil obras.

Não há como não se deleitar com obras genuínas de gênios que estiveram à frente de grandes movimentos, como Pablo Picasso, Vassily Kandinsky, Marc Chagall, Marcel Duchamp, Henri Matisse, Alberto Giacometti, Le Corbousier, Fernand Léger, Amedeo Modigliani e Francis Bacon, entre outros. Unidos pelo fato de que em algum momento tiveram um vínculo com a França, o dream team das artes oferece uma emoção única. Nem mesmo em eventos do porte das bienais costuma-se reunir tantos nomes estrelados de uma só vez. O feito coube à BrasilConnects, empresa surgida na realização da Mostra do redescobrimento: Brasil + 500, que desta vez investiu US$ 2 milhões.

Boa parte do dinheiro foi destinada ao projeto cenográfico criado por três arquitetos e designers franceses. Segundo Laurent Le Bon, um dos curadores da Parade, “trata-se de uma arquitetura a serviço das obras”. Ainda que proponha curiosos “diálogos” entre peças de épocas e conceitos distintos, o melhor da mostra é a ordem cronológica delas, reforçando o caráter pedagógico do evento, que pretende receber 100 mil estudantes até seu término, em 15 janeiro de 2002. Um dos pontos iniciais e cruciais da visita é o deslumbrante painel Parade – que batiza a exposição – com 16,40 m de comprimento por 10,50 m de altura, realizado em 1917 por Pablo Picasso como boca de pano para o balé de Jean Cocteau e Erik Satie. Mais chique impossível.