Vestida para ousar, Zizi Possi faz caras e bocas na capa de seu 17º disco com a intenção de remeter às fotos das moças anônimas que nos anos 60 ilustravam LPs e compactos. A sacada divertida logo afasta a possível “seriedade” imbuída no título Bossa, de associação imediata com a bossa nova. Na verdade, a linha mestra do CD é a bossa nova, mas Zizi não revisita o gênero do jeito chato como tem feito a maioria daqueles que persistem em homenagear o ritmo. Ela apenas toma emprestada a sutileza e a incensada batida de violão do papa João Gilberto – que permeia várias das canções – para criar algo novo, com elegância e sem nenhuma artificialidade. Começando pelo repertório escolhido e pela primeira faixa Preciso dizer que te amo, de Dé, Bebel Gilberto e Cazuza, originalmente gravada por Marina em 1987. É um bom exemplo da versatilidade de Zizi Possi. Enquanto Marina, também numa ótima interpretação, regionaliza a canção como se cantasse ao frescor da brisa carioca, Zizi a internacionaliza ajudada por um arranjo quase cool jazz.

A cara pop da bossa novíssima acontece em Eu só sei amar assim, de Herbert Vianna, com participação de João Barone, o melhor baterista. Ela é seguida de Haja o que houver, assinada por Pedro Ayres Magalhães, do grupo português Madredeus, na qual a intérprete traduz toda a saudade impressa na letra sofrida. Nesta música, a filha Luiza Possi faz uma participação luxuosíssima, acrescentando uma onda jovial que se mescla à orquestra regida pelo inglês Graham Preskett. Qualquer hora, de João Linhares, introduz um delicado solo de trompete de Márcio Montarroyos. Mas, apesar de ser uma boa canção, deveria trazer um crédito a Mário Quintana, pois o compositor praticamente surrupiou um verso do poeta gaúcho ao fazer o próprio. No remix bossa nova, a cantora ainda pinçou Sabrás que te quiero, de Teddy Fregoso. Todo bolero tem um sabor kitsch, caso contrário não seria bolero. Só que um toque de grife minimalista, uma gota de refinamento, pode virar do avesso uma canção. E Zizi Possi conseguiu.