É como um túnel do tempo às avessas. Em 2001, em vez das sonhadas naves portáteis de Os Jetsons, a diversão da garotada é andar de motoneta, uma versão modernizada da velha Vespa. Podem ser scooters, a nova geração das lambretas dos anos 50, ou pequenas motos de até 100 cilindradas, com partida elétrica e freio a disco. Com design avançado, motor econômico e preços a partir de R$ 2,9 mil, elas são a sensação do mercado. De cada cinco veículos de duas rodas vendidos no Brasil no ano passado, um era motoneta. Em cidades campeãs de engarrafamentos, elas vencem pela praticidade. Nas férias, entre a garotada, são sinônimo de aventura.

Morador do Alto Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, o ator Edwin Luisi, 53 anos, não tira mais o carro da garagem para ir à praia, ao dentista ou fazer compras. Usa a sua pequena Peugeot Vivacity de R$ 4,7 mil. Mas evita as vias de trânsito intenso porque a velocidade limitada torna o scooter uma presa para outros veículos. “Escolhi a de cor amarela justamente para repararem minha presença e não me atropelarem”, brinca. Edwin só tem elogios ao veículo: “Com R$ 7, encho o tanque. Além disso, a manutenção é fácil e não preciso procurar vaga em estacionamento.”

Carlos Magno
Edwin vai de Peugeot para a praia

Na Europa, as motonetas se popularizaram por serem o meio mais fácil de burlar vias estreitas e congestionamentos. Na Itália, onde são chamadas de motorinos, correspondem a 80% das vendas no mercado de motos. Em países como França e Espanha são o transporte descolado de executivos engravatados. Lá, o uso de minimotos é liberado para adolescentes. Menos potentes do que as motos tradicionais, os scooters são encarados por futuros motoristas como uma forma de adaptação às regras de trânsito até tirarem a carteira de habilitação. No Brasil, entretanto, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) restringe o uso desses veículos a maiores de 18 anos e exige carteira de habilitação para moto. Os scooters só podem trafegar em vias de pouco trânsito e, em caso de acidente causado por menores, os pais deles são responsabilizados.

Helcio Nagamine
Leonardo dribla a lei e desfila com a Biz do irmão

Com motor de 50 cilindradas (aproximadamente metade do tamanho de uma motocicleta comum) e velocidade média de 50 quilômetros por hora, os scooters são comparáveis aos carros populares: ainda que limitados, são econômicos e adequados para pequenos deslocamentos. Para quem quer mais velocidade, a opção é pelas motonetas, que atingem até 120 quilômetros por hora e têm facilidades como troca de marchas e partida elétrica. Os consumidores brasileiros preferem as mais velozes. Só a motoneta Biz, da Honda, vendeu 101.082 unidades em 2000. Já a líder no mercado de scooters, a Kasinski, que vende scooters em até 60 prestações, tem como um de seus maiores sucessos de vendas a Super Cab 50, com 3.648 unidades. Apesar de essas motinhos serem proibidas para menores, são justamente eles seus maiores fãs. Morador da zona norte de São Paulo, o estudante Leonardo Moraes, 16 anos, passa o fim de semana desfilando a bordo de uma Biz verde. “Andar de moto dá uma sensação de liberdade”, diz ele. “Além disso, é bom para paquerar, porque todas as meninas querem dar uma volta na garupa.” A moto pertence ao irmão, Rafael, 20 anos, que a comprou para poder se locomover mais rapidamente entre o trabalho e a faculdade. “Sei que meu irmão não poderia usar, mas confio no bom senso dele. E ele sempre me garantiu que só anda na vizinhança.”

Mesmo nesses casos, convém andar em baixa velocidade e sempre de capacete. Para adolescentes, é recomendável uma proteção extra, como calça emborrachada e cotoveleira. A estudante paulista Camila Rodrigues Silva, 13 anos, quebrou o pulso direito e ganhou escoriações nos joelhos ao derrapar com uma scooter sobre a areia. Desde o tombo, ela nunca mais quis pilotar uma motinho. “Agora só ando na garupa das scooters das minhas amigas”, afirma. “Percebi que, se arrebentar a espinha, vai ser difícil consertar.” 

POR ISSO…
…EU CORRO MAIS
 
O modelo Cab 50, da Kasinski, é campeão de vendas na categoria scooter. R$ 2.990A Honda Biz é a motoneta mais vendida do Brasil. À sua frente, só CG 125, a eleita dos motoboys. R$ 2.799 a R$ 3.137
  
A Yamaha Crypton 105 tem câmbio automático e visual de estradeira. R$ 3.142O design da italiana Aprilia Area 51 tornou o veículo famoso. Na Itália, é chamado de motorino. R$ 6.890