A determinação do governador Jaime Lerner (PFL-PR) de privatizar a Companhia Paranaense de Energia conseguiu um feito inimaginável: uniu o MST do Estado e grandes latifundiários, os sindicalistas mais estridentes e a Federação das Indústrias do Estado, a CNBB e os pastores evangélicos, sem falar na larga maioria de paranaenses – 80% da população, de acordo com as pesquisas recentes. Todos são contra o leilão marcado para 31 de outubro, que pretende transferir à iniciativa privada a lucrativa estatal de energia, a maior distribuidora do País, com suas 16 usinas hidrelétricas e uma termelétrica. Para evitar os protestos, o governo paranaense escolheu a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro para sediar a venda.

Eficiente, localizada em uma região de muitas chuvas, com lucros anuais de cerca de R$ 400 milhões e uma imagem fortemente ligada ao desenvolvimento do Estado, a Copel é o orgulho dos paranaenses. Para analistas, é a mais bem estruturada estatal do setor, operando na geração, transmissão e distribuição, além de ser “exportadora” de energia.

Argumentos a essa vigorosa oposição não faltam. O próprio Lerner, há três anos e já como governador, era contrário à idéia. De lá para cá, cedeu ao argumento de que o dinheiro que será arrecadado – cerca de R$ 5 bilhões, estima-se – servirá para bancar gastos do Estado. A própria avaliação da empresa é um caso sério. Há quem diga que a Copel vale pelo menos R$ 20 bilhões.

Na ala menos radical da oposição, aquela que vê a privatização como algo saudável, o principal argumento é que a crise energética que o País enfrenta trouxe muitas dúvidas sobre qual o melhor modelo energético para o Brasil, conforme nota publicada em junho nos principais jornais do País, assinada pelas federações da indústria, agricultura, comércio, associações comerciais, das cooperativas e de empresas de transporte do Paraná. Um mês depois, nota semelhante foi divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), seção paranaense. Em pesquisa realizada entre os sete mil filiados à Associação Comercial do Paraná, 70% dos entrevistados se disseram contrários à venda. “Acreditamos que essa é uma questão que precisa ser melhor estudada, inclusive pelo fato de ter tanta gente contra”, diz dom Murilo Krieger, arcebispo de Maringá e presidente da CNBB no Estado. Os empresários seguem o mesmo tom. “Somos privatistas, mas acreditamos que o modelo energético brasileiro precisa ser reavaliado. Por isso, somos contra vender a Copel agora”, diz Marcos Domakoski, presidente da Associação Comercial do Paraná. O presidente do Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos do Estado, Luiz Antonio Rossafa, concorda: “Não é questão de ser contra o governo, o problema é que o Estado que tiver energia barata terá uma vantagem comparativa importante para atrair investimentos. Estamos interessados em que investidores estrangeiros ampliem a oferta de energia no Estado.”

Colaborou Paulo Vasconcelos