O mundo já sabe quase tudo sobre a história de Osama Bin Laden, menos onde ele está. Que ele nasceu em Riad, Arábia Saudita, em 1957; que é o 17º filho dos 52 que o magnata do setor de construção civil Mohammed Bin Oud Bin Laden conseguiu pôr no mundo com pelo menos uma dezena de mulheres; que é um capitalista competente, exímio jogador do mercado financeiro; que seu sobrenome já brilhou na Fórmula 1, entre 1978 e 1983, quando o grupo de seu pai patrocinou a ascensão da escuderia Williams ao pódium com os pilotos Keke Rosberg e Alan Jones. Sabe-se até que, mesmo com a islâmica ausência da família Bin Laden ao circuito, Alan Jones não pôde beber champanhe para comemorar o campeonato de 1980 em cumprimento às regras religiosas de seu patrocinador. A Williams arrancou. Bin Laden tinha então 21 anos e participava do negócio do pai à distância.

Aprendeu tudo sobre o capitalismo que combate e, nas barbas de Alá, fere indiretamente o versículo 2:275 do Alcorão, a bíblia dos muçulmanos, que diz que "os que vivem de juros não se levantarão de seus túmulos senão como aqueles que o demônio esmaga". Deus, no Alcorão, aniquila o juro. Bin Laden tem negócios no setor financeiro, que se alimenta de juros. Ele é um investidor talentoso em ações e derivativos, modalidade arriscada de ganhar dinheiro no mercado, a preferida dos especuladores. Depois dos atentados a Nova York e Washington, descobriu-se, por exemplo, que ele pode ter multiplicado a herança de US$ 300 milhões que recebeu do pai em complexas manobras nos mercados de ações em Nova York, Frankfurt, Londres e Tóquio, ao especular, dois dias antes da tragédia, com ações de empresas seguradoras européias e americanas e da United Airlines e American Airlines, exatamente as duas cujos aviões foram usados para transformar filmes de ficção em contos da carochinha diante dos atentados em Nova York e Washington. A operação, chamada "short selling" (ou venda de curto prazo), teria sido maquiavélica: uma aposta na queda das ações das companhias que, concretizada, proporcionou lucros milionários aos investidores que fizeram a aposta certa. Investigações internacionais estão tentando apurar se Bin Laden usou esse expediente para financiar a sua rede. Pelos cálculos da CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos, a rede financeira de Bin Laden movimentaria cerca de US$ 3 bilhões .

Comitês – Além do mercado financeiro, Bin Laden, afastado da família desde 1990 e privado da cidadania da Arábia Saudita desde 1994, criou várias companhias no Sudão – onde se estabeleceu em 1991 -, entre elas o Al Shamal Islamic Bank, com investimentos em cerca de 60 companhias do Ocidente e relações com instituições financeiras de Nova York, Genebra, Paris e Londres. Ele também criou empresas nas áreas de construção, navegação, agricultura, criação de camelos e avestruzes, negócio de diamantes, reunidas na holding Wadi al-Aqiq, que tem participação acionária em empresas do Sudão, do Bahrein e do Iêmen. As empresas são administradas por três comitês: um militar, um religioso e outro financeiro. Ele e seus seguidores usam os negócios como meio para movimentar dinheiro secretamente, sempre por computador.

Doações – A fortuna de Bin Laden incluiria também participações em associações e entidades beneficentes islâmicas, com doações mensais que variam entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões, recolhidas em outros países por jovens fanáticos. A mais conhecida delas chama-se International Islamic Relief Organization (Ilro), criada em 1985, com filiais em vários países da Europa. Grande parte desse dinheiro doado é usada para ajuda humanitária. A outra parte, segundo as investigações, seria uma das principais fontes de renda da Al-Qaeda, a organização que reúne seus seguidores e funcionaria de forma semelhante às franquias do McDonald’s – que, aliás, os muçulmanos abominam. A Al-Qaeda utiliza uma rede bancária islâmica, a hawala, que é informal e opera há gerações na Ásia e no Oriente Médio e é baseada na confiança, sem deixar rastros. Suas operações podem ser seladas com um simples aperto de mão e não envolvem, jamais, nenhum meio eletrônico.

Na categoria de negócios ilícitos, especula-se sua participação no tráfico de ópio. Como patrão, dizem, ele pode ser considerado moderno e, de certa forma, generoso. Paga salário mínimo equivalente a US$ 200; os que aderem ao Al-Qaeda recebem US$ 300 a mais e benefícios, como assistência médica e auxílio-alimentação.

Ah… ele tem também propriedades imobiliárias em Paris, Londres e Côte d’Azur.