i67019.jpgTão rápido quanto se tornou um ídolo de sua geração, a cantora britânica Amy Winehouse enveredou numa vertiginosa sucessão de escândalos causados por brigas, bebedeiras, consumo de drogas e descumprimento de contratos. Envolveu-se numa ciranda de confusões que parecem não ter fim. Aos 20 anos, Amy surgiu na cena musical internacional como a imagem e a voz de uma diva do soul music. Dona de um timbre inspirador e de um estilo despojado e rebelde que conquistou milhares de fãs ao redor do mundo, a cantora encontrou no jazz, no soul e no R&B as inspirações que a levariam ao sucesso. Seus dois discos, Frank (2003) e Back to Black (2006), são provas disso. Além de venderem milhões de cópias, esses trabalhos também lhe renderam prêmios importantes e elogios da crítica, que a alçou ao seleto grupo das grandes cantoras desta década. Além de uma fortuna avaliada em US$ 18 milhões (cerca de R$ 35 milhões).

Embora Amy tenha um talento indiscutível, ela não consegue se desvencilhar da imagem de garota perturbada, até porque não pára de aprontar e dificilmente consegue ocultar da mídia a sua vida tumultuada. Pouco tempo depois de lançar seu segundo disco, o envolvimento com drogas, a internação para tratamento e as detenções (algumas causadas pelas violentas brigas com o marido, Blake Fielder) transformaram sua vida pessoal em principal notícia de tablóides e jornais de fofocas de todo o mundo. Isso acabou ofuscando o seu trabalho e mostrou que todo o reconhecimento que alcançou corre o risco de ser comprometido pelo seu descontrole sobre a própria carreira. O comportamento autodestrutivo de Amy também foi suficiente para que sua parceria de sucesso com o produtor musical Mark Ronson chegasse ao fim. Ele vetou este ano o início das gravações de seu novo disco, afirmando que Amy sempre chegava completamente embriagada para as sessões de gravação de voz em estúdio – e isso provava que ela ainda não estava preparada para iniciar um novo trabalho.

É nessa vertiginosa história de ascensão e queda da cantora que se baseia o livro Amy Winehouse: biografia (Editora Globo, 208 págs., R$ 19,90), escrito pelo jornalista britânico Chas Newkey-Burden e que chega agora ao Brasil. Focado em notícias que abastecem quase que diariamente jornais internacionais, Burden reconstrói, em detalhes, o que ele chama de "fim anunciado" da carreira de Amy e sugere que esse ciclo não será revertido porque a cantora é totalmente inábil para lidar com a fama e pouco receptiva aos tratamentos psiquiátricos ou de reabilitação para dependência química. O biógrafo aborda e discorre sobre os "fantasmas" que assombram a vida e o futuro da cantora e que já foram e ainda são tão explorados pela mídia. O autor também dedica parte da biografia às inspirações que aproximaram Amy da música e que a tornaram um grande sucesso mundial.

Para isso, Burden se utiliza de entrevistas inéditas que realizou com os pais, parentes e amigos íntimos da artista. Passagens que falam sobre sua adolescência não só pontuam momentos importantes como também rendem novidades interessantes aos leitores.

Quando ainda morava na casa de sua família, por exemplo, Amy passou a ouvir sem parar alguns discos de Frank Sinatra e Thelonious Monk, artistas pelos quais o pai, o taxista Mitchell Winehouse, tinha um carinho especial. Seria dessas audições despretensiosas que ela tiraria algumas de suas grandes inspirações para compor e escolher o caminho musical que iria trilhar. Como a própria cantora revela na biografia, foi ouvindo a jazzista americana Ella Fitzgerald que aprendeu a cantar. Mas, só aos 14 anos, quando ganhou sua primeira guitarra, Amy começou a compor algumas canções próprias. Pouco tempo depois, quando já havia saído de casa, passou a cantar com a orquestra National Youth Jazz. As apresentações chamaram a atenção de Simon Fuller, o grande empresário do mundo do entretenimento e que seria responsável por alavancar a sua carreira. Além desses relatos familiares, Burden também reúne alguns depoimentos de jornalistas e pessoas do show biz falando sobre a capacidade musical de Amy, seu talento natural para a música e a sofisticação de seus discos.

Dessa maneira, ele consegue organizar um material capaz de desvendar a pessoa real e sem retoques que existe por trás da imagem que se fez de Amy Winehouse. E é esse o grande mérito do livro.