Desde a Guerra do Golfo, em 1991, o canal a cabo americano CNN, especializado em jornalismo, virou sinônimo de notícia com sua ampla cobertura em pleno olho do furacão do conflito. Nos recentes atentados contra o World Trade Center, as câmeras da rede foram as primeiras a enviar suas imagens impressionantes para o mundo, num lance de rapidez que fez superar todas as expectativas de audiência. Sozinha, a CNN pode ser sintonizada por 240 milhões de lares ao redor do planeta, mas naquele momento vários outros canais passaram a repetir sua transmissão. Foi o que bastou para reerguer a auto-estima e, principalmente, a audiência do canal, abalada pela ação de concorrentes como a Fox News Network. No ano passado, na tentativa de recuperar os espectadores, a emissora, inaugurada em 1980, na cidade de Atlanta, na Geórgia, chegou a adotar medidas drásticas. Demitiu 400 profissionais, contratou outros tantos e reformulou sua programação. Bastou, contudo, o mundo ocidental se colocar diante de uma guerra para que a CNN voltasse a seus melhores momentos.

As comparações com o sucesso das transmissões da Guerra do Golfo são inevitáveis. Tanto que até já existe em suas fileiras uma espécie de novo Peter Arnett, o correspondente que ganhou fama internacional por ter sido o único jornalista em Bagdá durante os bombardeios americanos. Desta vez, quando tudo aconteceu, foi o inglês Nic Robertson quem se encontrava no Afeganistão. Ele tinha viajado para cobrir o julgamento de oito voluntários internacionais acusados de converter muçulmanos ao catolicismo. Pura sorte profissional. Após os ataques, Robertson conseguiu permanecer oito dias no país. “É justo dizer que normalmente os afegãos são hospitaleiros, mas agora eles estão muito desconfiados com estrangeiros”, revelou Robertson a ISTOÉ. No momento, sua nova base é Quetta, no oeste do Paquistão, a 130 quilômetros da fronteira do Afeganistão, onde se encontra a salvo.

Antes, porém, o jornalista viveu momentos de muita tensão na fronteira dos dois países. “Os soldados do Taleban tinham suas baionetas prontas para usar e pareciam bem descontentes com nossa presença.” Durante o período em que esteve em solo afegão, Robertson foi proibido de filmar. Mesmo assim, quando aumentaram as suspeitas sobre Osama Bin Laden, ele passou a produzir suas reportagens ao vivo, recorrendo a um providencial videofone. Trata-se de uma engenhoca de US$ 20 mil, dotada de câmera, tela de cristal líquido e um telefone diretamente conectado a um satélite, que proporciona uma cobertura ao vivo, sem necessidade de grandes aparatos, como antenas ou caminhões de transmissão. Pode ser carregado na bateria de um carro, embora ofereça metade da qualidade de uma transmissão convencional. Mas a maior ironia de toda a história é que, segundo Robertson, oficiais do Taleban quiseram e foram ver as imagens do atentado no escritório improvisado da CNN, num hotel em Cabul, capital do Afeganistão, cujo governo proibiu a televisão. Nic Robertson conta, mas nem era preciso, que a estranha situação provocou extremos calafrios.