Esqueça o passaporte, o cartão magnético, a carteira de identidade. O controle de passageiros e de bagagens nos aeroportos deve utilizar métodos bem mais sofisticados, depois que se constatou que aviões também podem funcionar como mísseis. O corpo será a senha de identificação daqui para a frente e as tecnologias que permitem o reconhecimento a partir de características físicas serão cada vez mais populares. Leitores eletrônicos que medem o tamanho e a forma da íris do olho humano e as impressões digitais, comparando-os com imagens arquivadas no computador, já fazem parte dos serviços de proteção aérea do Canadá, de Israel e da Inglaterra.

Vai demorar para que essas parafernálias cheguem ao Brasil. De qualquer forma, o mandamento no planeta é quintuplicar a segurança contra o terrorismo. A primeira vítima do contra-ataque é a privacidade. Ainda não houve revanche militar, mas a guerra já começou e está sendo disputada pelos arapongas. Depois de dar carta branca à espionagem para interceptar mensagens trocadas pela internet, pelo fax ou telefone, o Congresso americano quer violar os programas de criptografia, que embaralham as informações para que apenas remetente e destinatário tenham acesso a elas. Há suspeita de que os terroristas teriam usado essa ferramenta para manter em sigilo sua comunicação pela rede. A idéia é embutir nos sistemas de criptografia um subprograma capaz de decifrar os códigos. A chiadeira foi imediata. Um grupo de 150 organizações de defesa dos direitos civis encaminhou ao Congresso manifesto de repúdio “à erosão da liberdade que é o coração do american way of life”. A internet não tem fronteiras e usuários de todo o mundo podem entrar na malha fina dos espiões. “Quem garante que eles não venderão informações valiosas de multinacionais pescadas na rede?”, questiona o consultor Marco Martins, da Scopus, empresa que criptografa as assinaturas do presidente FHC. “Querem acabar com o maior trunfo da rede, o anonimato”, reclama Alex Guerra, diretor técnico do Centro Empresarial RB1, no Rio de Janeiro. Membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) prevê uma onda de abusos e perseguições políticas contra os cidadãos. Ele entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal solicitando o cancelamento da autorização dada por FHC para a instalação, em São Paulo, de um escritório da CIA, a agência de informação dos EUA. Também apresentou denúncia à Câmara Federal para que o presidente seja processado por crime de responsabilidade. Pela Constituição, deve partir do Congresso a permissão para a permanência de forças estrangeiras em solo nacional. “Em missão de busca e salvamento, os parlamentares não precisariam se manifestar. Mas não é o caso. A CIA não vem aqui salvar ninguém, e sim perseguir e prender árabes e palestinos”, acusa o deputado.

Colaboraram: Eduardo Hollanda (DF) e Hélio Contreiras (RJ)