Museu Dançante/ Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP/ até 21/6

Se fosse um corpo humano, a exposição “Museu Dançante” teria dois pulmões. Eles seriam a “Bolha Vermelha” (1968), de Marcelo Nitsche, e “Templo” (2000), de Franklin Cassaro, ambas obras infláveis, que se apresentam ora plenas de ar, ora esvaziadas. Ativadas por motores controlados por timers, elas respiram livremente, como dois órgãos vivos na Grande Sala do MAM-SP. As camadas da pele desse corpo humano seriam as cortinas de alumínio de Daniel Steegman, que são continuamente atravessadas pelo público que circula no espaço. A visão seria garantida pelo “Olho”, de Márcia Xavier, fotografia vista em distorção através de dispositivo redondo de metal. O coração e centro nevrálgico seria “Máquina Curatorial” (2009), instalação de Nicolás Guagnini, integrada à coleção do MAM SP depois de ser apresentada no 31º Panorama da Arte Brasileira. Trata-se de um dispositivo expográfico, com paredes giratórias que podem ser manipuladas pelo público, formando múltiplas possibilidades espaciais. A “Máquina Curatorial” foi escalada pelo curador Felipe Chaimovich para sustentar as pinturas concretistas e neoconcretistas de Hércules Barsotti e Hélio Oiticica, o que coerentemente chama a atenção para um momento da história da arte brasileira em que a pintura perdeu a condição estática e bidimensional e ganhou o espaço. Mas a força vital do “Museu Dançante” está no corpo de baile da São Paulo Companhia de Dança (SPCD), que interage com cada uma dessas obras em duas coreografias especialmente compostas para o projeto.

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CORPO DE BAILE
"Espreguiçadeiras Multi", do coletivo carioca Opavivará,
e dançarinos da São Paulo Companhia de Dança

Co-curadoria de Felipe Chaimovich e Inês Bogéa, diretora da SPCD, o projeto coloca em diálogo as obras do acervo do MAM e os bailarinos da companhia. O ponto de partida foi dado por Chaimovich, que partiu de três ideias que considerou comuns entre a dança e as artes visuais – desequilíbrio, gravidade e flutuação – para escolher as 40 obras de arte com as quais a SPCD entraria em contato. As escolhas se notabilizam por obras cinéticas, que se movem, como o “Aparelho Cinecromático” (1969/86), de Abraham Palatnik; as que tem intenção de movimento, como os “Metaesquemas” (1958) de Oiticica, o “Cavalo Branco”, de Sandra Cinto, e a “Mesa Alongada” (2010) de Edgard de Souza, que parece subir pelas paredes; e aquelas que permanecem e propiciam o repouso, como “Quarto dos troncos” (2005), de João Loureiro, “O Telhado”, de Marepe, e as cadeiras de praia do coletivo carioca Opavivará. Estes últimos, possivelmente pertencentes ao núcleo da gravidade.

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DESEQUILIBRIO
Dançarinos e obra "Copulônia", de Ernesto Neto

Estáticas ou cinéticas, as obras são sempre disparadoras do movimento dos visitantes – sejam eles dançarinos profissionais ou amadores. “A ideia é fazer do museu um lugar onde as pessoas sejam menos reprimidas corporalmente. Acho que nós conseguimos, pois as pessoas estão dançando sozinhas diante das obras”, conta Chaimovich. A obra que se presta mais perfeitamente a esse propósito é “Do Universo do Baile” (2008), uma releitura de Dias & Riedweg do funk carioca, composta por três vídeos e um assoalho de balanças sobre o qual pode-se pisar e dançar, testando o próprio peso e a leveza. Este jogo de interações faz de “Museu Dançante” um experimento novo e corajoso, diferente de outras experiências realizadas por museus internacionais, como o Tate Modern ou o MoMA, em que a dança fica invariavelmente confinada aos átrios e espaços protegidos.

Fotos: Renato Parada; Charles Duprat Courtesy White Cube