O mundo não fez a lição de casa em relação às suas crianças, determinada em setembro de 1990 em Nova York na Cúpula Mundial pela Criança. A conclusão é do relatório “Situação Mundial da Infância 2002, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que faz um balanço das 27 metas assumidas por 157 países e que deveriam ter sido cumpridas até este ano. A pior situação é a da África e da Ásia, onde a mortalidade infantil foi agravada pelo avanço da Aids. Houve também aumento da desnutrição e do trabalho infantil. O Brasil conseguiu cumprir dez das metas – entre elas a vacinação de 90% de crianças até cinco anos, a redução de mais de 50% de mortes por diarréia infantil e o combate e tratamento da Aids, cujo programa foi considerado modelo. Ficou devendo alguns pontos em 14 outros objetivos – como colocar toda criança na escola, que ficou nos 96%. Foi reprovado em mortalidade materna, acesso universal à água potável e taxa de analfabetismo adulto. Para o secretário de Estado dos Direitos Humanos, embaixador Gilberto Saboia, na média o Brasil foi aprovado. “Tivemos avanços substanciais. O mau desempenho nesses três itens é o resultado de problemas estruturais que precisam ser atacados com mais vigor”, afirmou.

O pior desempenho brasileiro foi na prevenção da mortalidade materna. No Brasil, estima-se que morram cinco mil mulheres ao ano por complicações no parto com a eclampsia (hipertensão específica da gravidez), responsável por 90% dos casos. Uma situação que se repete há mais de dez anos. Na água potável, enquanto o percentual mundial da população com água tratada passou de 79% para 82%, o Brasil só agora chegou aos 79%. Com relação ao analfabetismo adulto, a meta era baixar a taxa de 20,11%, de 1991, para a metade, O último dado oficial disponível, de 1999, diz que chegamos a 13,3%. Mesmo assim o Brasil ganhou elogios no relatório do Unicef pela atuação pontual de três brasileiros – a jornalista Âmbar de Barros, o empresário Oded Grajew e o padre Júlio Lancelotti, que foram destacados como líderes no interesse da criança.

Criadora da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Âmbar se orgulha do reconhecimento da Andi, que nutre de informações sobre a infância e a adolescência jornalistas de todo o Brasil, mas diz que ainda há muito por fazer. “Fomos felizes em mostrar que criança não é caso de polícia, e sim de políticas públicas, mas o objetivo de melhorar a vida das crianças ainda está longe de ser cumprido”, afirmou. Um veterano lutador pelos direitos da infância, o padre Júlio Lancelotti acha que a escolha do Unicef “fortalece um trabalho pouco reconhecido no País e que chega mesmo a incomodar”, referindo-se à Casa da Criança, que acolhe crianças e menores com Aids, e ao Centro de Defesa, onde atende adolescentes infratores em liberdade assistida. “Ter o aval do Unicef mostra que o nosso trabalho está de acordo com compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, completa. O empresário Oded Grajew foi escolhido por seu trabalho na Fundação Abrinq e no Instituto Ethos. As duas instituições mobilizam empresas a apoiar projetos em favor das crianças e a adotar políticas e práticas responsáveis.