O guru de Wall Street Warren Buffett jura que não vai vender suas ações. O ex-chefão da General Electric e multibilionário Jack Welch engrossa o coro, garantindo que a Bolsa de Nova York continua sendo o melhor lugar do mundo para depositar seus dólares. No “aquário” da Bolsa de Valores de São Paulo, de onde investidores calejados acompanham o corre-corre dos operadores, o conselho também é esse: manter as ações até que as coisas voltem ao normal. Analistas financeiros, corretores e economistas de bancos aparecem na tevê e afirmam a quem queira ouvir: é a pior hora para vender suas ações e embarcar no dólar. Os números mostram que muitos investidores, brasileiros e estrangeiros que investem no mercado nacional, não parecem dispostos a dar ouvidos. O alarme já soou e o negócio é correr, parecem dizer. Embalados pelo baixo-astral generalizado, saíram dos fundos que aplicam em ações quase R$ 1 bilhão apenas nos três primeiros dias depois dos atentados em Nova York e Washington. Foram para o dólar e os fundos lastreados em títulos que acompanham os juros fixados pelo governo federal, os chamados DI, a preferência nacional em matéria de investimentos, com um total de R$ 95 bilhões aplicados. Enquanto isso, a Bolsa segue em queda – mais de 30% de baixa desde o início do ano. E o dólar acumula alta de quase 40% no mesmo período.

Lucros em queda – Por mais que os entendidos recomendem calma, o pessimismo com relação à economia brasileira tem uma base sólida para prosperar. Depois de pelo menos sete anos de crescimento, ações em alta, muito consumo e dólares à vontade para países como Brasil e Argentina, as principais economias do mundo – EUA, Japão e Alemanha à frente – pisaram com tudo no freio. O momento é de lucros em queda, pouco investimento em novos negócios e uma revoada de dólares voltando para os mercados mais seguros. No jargão econômico, trata-se de aversão ao risco diante da incerteza que tomou o planeta – eles preferem comprar ações de empresas americanas ou européias, mas principalmente investir em títulos emitidos pelo Banco Central dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra ou Japão. Atualmente rendem pouco, no máximo 5% ao ano em dólar, mas em compensação não quebram nem correm o risco de virar pó.
Essa fuga de capitais explica a persistência com que a moeda americana sobe no Brasil. Com poucas exportações e a necessidade de remeter a bancos estrangeiros e multinacionais US$ 27 bilhões ao ano, dólar virou coisa rara: quem tem não vende ou vende caro. E muita gente precisa deles urgentemente: empresas brasileiras para pagar empréstimos, multinacionais para reforçar o caixa da matriz e outros tantos para simplesmente proteger o patrimônio.

Compre ações – A estratégia do Banco Central para conter o apetite do mercado é vender dólares e emitir títulos do governo que pagam a variação cambial mais juros. Até aqui tem sido inútil – a cotação já chegou a R$ 2,75, patamar inimaginável no início do ano e, como se viu, a corrida ainda não chegou ao fim. “Está todo mundo fazendo a coisa errada”, garante Gil Deschatre, professor da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, ambos do Rio de Janeiro. Como outros especialistas, diz que a hora é de muita calma. “Em vez de vender ações, as pessoas deveriam comprar pelo menos 30% do que têm aplicado”, diz. E acena com o melhor dos mundos para quem seguir o conselho: retorno de 100% em dólar em dois anos. Nesse caso, as ações mais recomendadas são as mais negociadas, como as da Petrobras, Vale do Rio Doce, Bradesco e Banco do Brasil. O velho e bom imóvel também é boa opção, desde que o investidor esteja ciente de que se trata de um investimento de baixíssima liquidez, ou seja, demora para virar dinheiro de fato quando se decide vendê-lo.

Para quem pensa na tradicional caderneta de poupança, o consenso entre quem entende do assunto é de que não vale a pena. “É a pior das opções”, diz Ronaldo Magalhães, diretor da Sul América Investimentos. “Com pelo menos R$ 1 mil, já é possível aplicar em fundo DI, cujo rendimento é melhor”, informa o executivo, que também recomenda cautela nessas horas de turbulência, o que inclui manter as ações em carteira e, a essa altura, evitar o dólar.

Financiamento – As coisas não estão menos complicadas para quem estiver interessado em comprar uma casa própria ou trocar de carro. No caso do imóvel, as notícias não são nada animadoras, ao menos para a classe média. A Caixa Econômica Federal fechou os financiamentos e anunciou o lançamento de um consórcio imobiliário em substituição, que funcionará da mesma forma que os consórcios para veículos. O crédito poderá ser utilizado para a compra de imóveis novos ou usados e entrará no mercado em dois meses. Comprar um carro zero é um pouco mais fácil. Os estoques altos e a demanda em queda fizeram com que as montadoras criassem algumas vantagens para o consumidor, como opcionais ou taxas de juros mais em conta. Para quem pode esperar, o consórcio também é a opção mais recomendável, ainda segundo os especialistas. Diante do stress generalizado, uma dose de paciência pode ser o melhor negócio.