Padrão nas páginas desta revista, o preceito constitucional da liberdade de imprensa e opinião permite que se elogie aqui a presidente Dilma Rousseff. Seu discurso ao empossar o novo ministro da Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, é um promissor compromisso com as melhores práticas democráticas. Ao se comprometer a não usar o peso das verbas oficiais de publicidade para pressionar veículos ao alinhamento automático com as posições de seu governo – e o que é pior, de seu partido –, Dilma abafou o coro de vozes que se levantavam (em seu governo e em seu partido) a favor do uso político dos quase R$ 2 bilhões que circulam pela Secom anualmente. A turma que queria favorecer com recursos os veículos que apoiam a gestão petista e relegar os que dela discordam ao esquecimento financeiro não ganhou seu apoio.

“Estamos comprometidos com o direito de se manifestar, de informar, de criticar. Somos contra a censura, a autocensura, as pressões, os lobbies e os interesses não confessados que podem coibir o direito à livre manifestação e à liberdade de imprensa”, disse ela.

Convém anotar para cobrar. O problema com a Dilma do segundo mandato não reside tanto nas ideias e no discurso, mas na ação. Pior: na ação comparada ao discurso. Caminhando em sentidos contrários, palavra e ato caracterizam contradição e, em casos mais graves, mentira. A Dilma eleitoral e a Dilma eleita são duas estranhas seguindo em rumos distintos. Há uma expectativa de que se reencontrem. O tom do pronunciamento da terça-feira 31 de março indica uma tendência de arrefecimento e busca de diálogo que ainda não havia sido sequer verbalizada no Palácio do Planalto. A nomeação de Edinho, um político com fama de moderado e negociador, seria concretização das palavras. Assim como a indicação, dias depois, do professor Renato Janine Ribeiro para a Pasta da Educação.

No lugar do irascível político Cid Gomes, entra um acadêmico habilidoso e respeitado, um homem que entende o mundo em que vive e como deve se comunicar com ele. Sua primeira manifestação como indicado foi uma mensagem postada nas redes sociais, que viralizou arrebatando apoios. Seu primeiro ato oficial no cargo, a assinatura de um programa de combate ao cyberbulling, formatado em conjunto com Google, Facebook e Twitter.

São duas correções de rumo importantes ao cabo de apenas três meses de mandato. Mas não serão nada mais do que isso caso se revelem somente uma manobra para desviar a atenção da opinião pública.

A gestão Dilma passa por um necessário processo de “desideologização”. É fundamental que ele permeie todas as áreas e que seja calcado em projetos e objetivos, e não na barganha política que levaria a uma nefasta “fisiologização”. O Planalto precisa aprender a ouvir. E, se é assim, que comece ouvindo o que a própria presidente falou: “A liberdade de expressão e de imprensa é o exercício do direito de ter opinião, do direito de criticar e apoiar os políticos e o governo, do direito de ter oposições e do direito de externá-las sem consequências e sem repressão”.