No final dos anos 1950, quando neoconcretos cariocas rompiam com concretos paulistas – questionando a utilização da tela como suporte da linguagem pictórica e convidando o espectador a participar da obra –, o mineiro Willys de Castro transitava com liberdade entre os dois movimentos. Artista visual, pintor, desenhista, gravador, cenógrafo, figurinista, químico, artista gráfico e até barítono eventual – participou do coral do Movimento Ars Nova, do Mastro Diogo Pacheco, para o qual também fez o design gráfico dos programas dos espetáculos –, Willys de Castro foi um artista completo e habilidoso, que soube filtrar e articular o pensamento artístico de seu tempo. Essa é a tese na mostra “Múltipla Síntese”, apresentada na galeria Almeida e Dale, em São Paulo.

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Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne desde as pinturas em que o artista desenvolvia a abstração geométrica e dialogava como os princípios do movimento concreto – cores puras, formas geométricas, efeitos óticos e cinéticos –, até os trabalhos que se descolam do plano bidimensional e começam a explorar o movimento e a integração do espectador: os “Objetos Ativos”, dos anos 1960, e os “Pluriobjetos” dos anos 1970 – comparados por Ferreira Gullar às poéticas inovadoras de Lygia Clark e de Hélio Oiticica.

Descomprometido com a superfície da tela e parceiro tanto dos paulistas quanto dos cariocas, de Castro compôs partituras para poemas de Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald e Ferreira Gullar. A exposição felizmente apresenta essas escrituras, assim como a peça sonora “Policromos”, composta por Willys de Castro em 1951, e o “Recital Concretista”, composto para o Teatro Brasileiro de Comédia, em 1957, e reeditado especialmente para esta ocasião.

Com partituras, pinturas, projetos de estamparia e composições musicais, a exposição é muito eficaz em lembrar a policromia da arte de Willys de Castro. PA