Leda Catunda e o Gosto dos Outros/ Galpão Fortes Vilaça, SP/ de 11/4 a 23/5

Em sua nova individual, Leda Catunda afirma que o gosto é uma zona de conforto, onde nos aninhamos a fim de nos sentirmos identificados e protegidos. Roqueiros reúnem-se em torno de tipografias góticas, de imagens de pin-ups e de grandes ícones da guitarra; surfistas se dividem entre a estética balinesa e a californiana; e as femmes fatales se protegem em estampas de pele de felinos. Todos esses grupos se encontram na exposição “Leda Catunda e o Gosto dos Outros”, em cartaz no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo.

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TODAS AS TRIBOS
Identidades visuais diversas convivem nas obras "MG – Mulheres Gostosas",
"Borboleta Lobos", "Botão I" e "Ásia I" (em sentido horário), de Leda Catunda

Desde o início de sua atividade artística, nos anos 1980, Leda Catunda se apodera do repertório de tecidos e estampas que nos envolvem em nossa vida cotidiana. Em sua pintura, a tela é substituída por toalhas, cobertores, cangas, cortinas, tapetes, roupas e acessórios recolhidos de mercados populares, que servem de base para trabalhos com tinta, tesouras e agulhas. O ambiente doméstico foi seu ponto de partida. Mas desde que começou a trabalhar com camisetas esportivas e as palhetas de cores que identificam os times de futebol, Leda intensificou sua pesquisa sobre a ânsia das pessoas em verem-se representadas por imagens.

Agora, Leda compõe obras a partir de uma operação cut and paste de referências visuais do surfe, do rock e das férias de verão. Ao moldar essas imagens em padrões arredondados e orgânicos, a artista faz uma afirmação: o código visual é o elemento que nos aproxima dos outros e nos dá a tão almejada e necessária sensação de pertencimento.

A ideia de calor e conforto é intensificada pelo papel de parede que envolve todo o espaço expositivo do galpão. Na estampa do papel, são desenhados todos os padrões que vem sendo desenvolvidos ao longo de sua trajetória, dando base às composições pictóricas: borboletas, besouros, biscoitos, botões. Nesse ambiente, códigos visuais discrepantes convivem em harmonia. Impossível não se deixar levar afetivamente pelas células iconográficas que condensam em alguns metros arredondados o suprassumo da imagem pop. E entender como “o gosto dos outros” pode tornar-se o gosto de todos.

Fotos: Eduardo Ortega