Sempre acontece: os grandes acidentes de avião espantam passageiros. Desta vez, porém, os atentados terroristas a Nova York e Washington fizeram explodir o pânico até naqueles que juram não ter medo de voar. Todo mundo está com medo. Se não fosse isso, o setor aéreo não teria anunciado num tempo recorde, depois do atentado, a belicosa decisão de demitir no mínimo 80 mil pessoas – número que pode ultrapassar os 100 mil numa velocidade de cruzeiro. No Brasil, o medo foi agravado com os acidentes do Fokker 100 da TAM, sábado 15, que provocou a morte de uma passageira, e do Boeing da Varig, que no dia seguinte perdeu a turbina e levou ao desespero seus 62 passageiros.

Conclusão: as companhias aéreas, que depois de um acidente sempre somem da mídia, apostando na amnésia do público, desta vez vão ter que encarar a necessidade de tranquilizar e reconquistar seus clientes. “O problema essencial para as companhias aéreas é o medo das pessoas”, disse ao The New York Times o professor de marketing Peter Seeley, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Em São Paulo, Alexandre Gama, diretor de criação e presidente da agência Neogama, conta com a experiência de ter feito campanhas para Vasp e Varig para dizer que, neste momento, uma possível saída seria vender destinos e serviços de bordo. Falar em segurança? Nem pensar. Seria uma catástrofe, mesmo porque todo mundo tem medo de voar. Pode não ser um medo assumido, como o do arquiteto Oscar Niemeyer e de Chico Buarque, nem o pavor do craque holandês Bergkamp, do Arsenal, da Inglaterra, que esclarece no contrato que não viaja de avião. Mas que é medo, é.

Os nervos abalados vêm causando uma relutância mais profunda e duradoura para embarcar. Numa pesquisa realizada nos Estados Unidos pela Harris Interative dois dias depois dos atentado, 64% dos entrevistados disseram que sentiam medo de voar nos próximos dias e 37% disseram que evitariam voar nos próximos meses. Outra pesquisa com executivos, da Business Travel Coalition, revelou que 88% das 187 empresas entrevistadas esperam que seus executivos – que representam entre 40% e 60% do faturamento do setor – reduzam suas viagens. Até pilotos confessam que estão “nervosos”, admitiu o diretor de uma associação americana de viajantes aéreos.

Ainda assim, várias companhias americanas optaram por suspender campanhas publicitárias temporariamente, enquanto suas ações caem de bico nas Bolsas dos Estados Unidos, consagrando a aviação comercial como a grande vítima corporativa. Pior é que tudo corre contra o setor, fornecedor involuntário das armas que destruíram a paisagem de Nova York. Antes dos atentados, a Embraer, gigante brasileiro das exportações, valia quase R$ 9 bilhões. Dez dias depois era cotada a pouco mais da metade.

Nos Estados Unidos, as companhias aéreas esperam os US$ 24 bilhões do pacote de emergência lançado pelo governo. No Brasil, o governo não prometeu nada, mas o ritmo também é de espera. O projeto da TAM de adquirir 12 aviões em 2002 está balançando. “Essa compra vai passar por uma análise de acordo com os desdobramentos dos fatos”, diz Rubel Thomas, vice-presidente. Tudo indica que os aviões não serão comprados simplesmente porque os passageiros, sabe-se lá até quando, estão fugindo do avião. Aqui e lá fora. Nos Estados Unidos, as reservas de passagens caíram 74%. Aqui, a Varig, maior empresa do setor do País, sucumbiu ao medo dos passageiros e anunciou a demissão de 1,6 mil funcionários (10% do total) e a eliminação de rotas com destino a cidades americanas. 

Viajar é sofrer

Vai viajar de avião? Então se prepare para chegar mais cedo no aeroporto, não levar nenhum tipo de objeto cortante na bagagem de mão (tesourinha de unhas, por exemplo) e ter muita paciência. As novas regras de segurança determinadas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), depois dos atentados, estão mudando a rotina, para pior, dos aeroportos brasileiros. O check-in nos vôos internacionais agora é feito três horas antes do embarque, enquanto nos vôos domésticos o prazo passou de uma para duas horas de antecedência. A demora é causada na revista com raios X e detectores de metal feita na entrada das salas de embarque. O quadro ao lado traz as principais regras.

Mais segurança antes
e depois do embarque

• Proibidas as visitas de passageiros à cabine de comando. A porta ficará trancada, com um comissário de guarda
• Cumprimento rigoroso das rotas de vôo
• Proibido embarcar com baterias extras de celulares e laptops
• Revista mais rigorosa de passageiros e bagagens
• Proibido levar canivetes, facas, espátulas, tesouras, etc. na bagagem de mão
• Revista rigorosa nos aviões, quando estacionados no solo
• Revista prévia nos funcionários da manutenção e limpeza dos aviões
• Check-in nos vôos internacionais três horas antes da partida
• Check-in nos vôos domésticos duas horas antes da partida
• Apresentação de documento de identidade no check-in e na entrada da sala de embarque