De cara, Elmore Leonard agradece aos Stone Coyotes por ter usado algumas músicas do trio americano em Nada a perder (Rocco, 272 págs., R$ 33) e ao Aerosmith, cujo livro autobiográfico Walk this way, em parceria com Stephen Davis, serviu de base para compor a banda personagem da obra. Fornecidos os créditos, o autor sai atacando a indústria fonográfica enquanto destrincha os mistérios envolvendo o assassinato do dono de uma gravadora. O produtor de cinema Chili Palmer conduz a trama e faz parecer aceitável o fato de uma história focalizada em atividades culturais ser tão recheada de gângsteres. Leonard também diverte com os comentários irônicos de seus personagens ou quando cita gírias específicas da relação mídia-show business.

Enquanto tenta permanecer vivo e desvendar o crime, Chili vai catando idéias para seu próximo filme. Ele amarga o fracasso da segunda parte de uma fita que fora sucesso, amaldiçoando a indústria cinematográfica que força continuações nas telas. Agora, Chili quer algo emocionante e escolhe o mundo musical pop como cenário. No caminho, aparece uma cantora de talento, explorada por um empresário-cafetão, e ele resolve produzir o próximo disco da moça. Assim, compra briga com perigosos sujeitos que dominam o mercado de produção musical. Mas aprende lições: “Os caras das gravadoras promovem os discos que têm grana atrás. Conseguem que entrem na programação rapidamente. Você escuta aquilo que os empresários querem que você escute”, diz um sábio da área.

Apesar dos ingredientes atraentes, se o leitor comparar com outros livros de Elmore Leonard, Nada a perder, publicado em 1999, se coloca bem abaixo na escala de qualidade. Não mantém o pique e chega a ficar arrastado em alguns momentos. O escritor, conhecido pelas boas histórias policiais, é um dos preferidos do cineasta Quentin Tarantino, que adaptou Ponche de rum para o filme Jackie Brown. Seu romance Irresistível paixão também foi encenado por George Clooney e Jennifer Lopez. Todos apresentando canalhas muito bem construídos, mas que infelizmente não é o caso desta obra assinada por um autor que costuma dar especial atenção a personagens marginais porque acha as pessoas com emprego e família muito chatas.