Os casais estão à vontade para rir de seu cotidiano. Diante de uma cena constrangedora com uma crise de ciúme, um fim de semana desastroso na praia ou uma gafe no jantar com os sogros, ninguém precisa enfiar a cabeça num buraco. É só sacar o bordão: “Isso é normais!” A expressão, criada a partir do seriado estrelado por Fernanda Torres (Vani) e Luiz Fernando Guimarães (Rui) e exibido às sextas-feiras, pela Rede Globo, virou sinônimo das manias e maluquices da vida a dois. A ponto de os autores, o publicitário Alexandre Machado, 41 anos, e a escritora Fernanda Young, 31, serem parados na rua por espectadores que se identificam.

Casados há oito anos, Alexandre e Fernanda são sempre apontados como os verdadeiros Rui e Vani. “Mas Os normais não é autobiográfico”, diz ele. “É humor de observação, inspirado em casais amigos nossos.” Não por acaso, o programa, que mantém excelentes 23 pontos de audiência, é assistido por pessoas das classes A e B, de 25 a 60 anos. “Adolescente não vê porque não tem crise de casamento”, analisa o diretor, José Alvarenga Jr.. Dizendo que a sacada é fazer os casais rirem de si mesmos, Fernanda revela algumas de suas manias: “Levanto às 2h30 para comer biscoito, acredito tanto em santos católicos quanto em deuses hindus e jamais deito em colchão de gomos.” Ela divide com o marido o gosto por tatuagens e o ódio por telefones. Enquanto se preocupa em não engordar, Alexandre nunca se pesa. “Não preciso saber como estou, minha auto-imagem é a do Sean Connery”, diz ele.

Para escrever os episódios, ambos buscam referências em casais como a publicitária Andréa Lobato, 33 anos, e o diretor de arte Jorge Falsfein, 40. Como Vani, Andréa vive querendo ordenar a vida do namorado. Se pensam em viajar para a Itália, ela já compra um guia e vai para a internet escolher o roteiro. Se vão a um restaurante e alguma mulher o cumprimenta, quer saber quem é. Já tentou mudar a decoração do apartamento de Falsfein, jogando fora a sua coleção de pinguins de geladeira. “Ele não deixou e eu é que acabei comprando uma escova de dentes de pinguim”, conta Andréa.

Metódico – Para o personagem Rui, a principal inspiração dos autores é o metódico Luiz Fernando Pedroso, 4.2 anos. É, 4.2 mesmo. Diretor de uma editora no Rio de Janeiro, Pedroso gosta de tudo organizado. Casado há 17 anos, é capaz de dar uma bronca na mulher, a artista plástica Anna Christina, 38, se encontrar toalha molhada na cama, calcinhas penduradas na torneira ou até roupas secando no varal. “Ele é tão ligado em limpeza que até nossos cachorros são poodles, pois fazem cocô pequeno”, entrega Anna. Pedroso se diverte ao ver o Rui do seriado repetir sua tese de que o casamento acaba no dia em que um parceiro vê o outro no banheiro. “Isso é bem comum”, diz. Ele tem certeza de que a rainha mãe e Roberto Marinho nunca morrerão, mas quando sai em viagem avisa como quer ser enterrado.

Mesmo casais que nunca conheceram os autores se identificam com o par de Os normais. Caso da poetisa Solange Casotti, 36 anos, e do artista plástico Guilherme Sechin, 42. Na última semana, ela gargalhou com a cena em que Vani se contorcia de vontade de ir ao banheiro, e Rui reclamava que é só mulher entrar no carro para querer fazer xixi. “É assim mesmo que acontece”, diz Solange. Sechin diz que, embora as situações sejam caricatas, muitos casais se espelham nas trapalhadas do programa. “Acho que isso acontece com todo casal que se ama e, como eles, tem uma química que funciona”, diz.

Juntos há um ano e meio, a dentista Liege Pereira, 40 anos, e o engenheiro Paulo de Andrade, 33, sempre se pegam em comparações com as situações vividas pelos personagens. Andrade elogia o seriado por falar de sexo e temas adultos em vez do tradicional pastelão. Mas às vezes se surpreende. “Achei interessante o último episódio, falando de transar para fazer as pazes, mas chocou um pouco porque sugeria sexo oral”, afirma. Mal sabe ele que agora que o seriado é sucesso, e a Globo planeja transformá-lo em filme, livro e DVD, a tendência é escrachar mais. “Luiz Fernando Guimarães quer lançar um boneco igual ao Rui, que venha com pênis”, avisa o diretor, José Alvarenga Jr. Em se tratando de um brinquedo inspirado em coisas de casal, isso é “normais”.