A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo está convencida de que houve mais do que um erro operacional no conflito entre policiais e o sequestrador de Patrícia Abravanel, Fernando Dutra Pinto, no flat L’Etoile, em Alphaville, na região Metropolitana de São Paulo. Esta semana, os delegados da corregedoria irão propor a abertura de processo administrativo contra o delegado Armando Roberto Bellio e o agente policial (motorista) Reginaldo Guatura Nardis. A corregedoria quer também que os dois sejam imediatamente afastados de suas funções. Como ISTOÉ revelou com exclusividade, há a suspeita de que os policiais possam ter ido ao flat não para prender Fernando, mas sim para ficar com o dinheiro do resgate. No conflito ocorrido no flat, Nardis saiu ferido e os investigadores Marcos Amorim Bezerra e Tamatso Tamaki foram mortos de forma ainda não explicada. Bezerra recebeu quatro tiros nas costas e um na cabeça, disparado à queima-roupa. Tamaki foi alvejado nada menos do que sete vezes pelas costas. Em depoimento prestado à corregedoria, Fernando afirmou que quando chegou ao flat encontrou, além dos policiais, um outro grupo com quatro homens. Segundo ele, esses dois grupos chegaram a trocar tiros.

Tão misterioso quanto as mortes dos policiais é o comportamento adotado pelo delegado Béllio. Ele esteve no flat, levou o dinheiro (R$ 464 mil) encontrado no quarto, mas não registrou a apreensão e deixou um pequeno arsenal do sequestrador sobre a cama. Depois, mandou seus investigadores para o local, sem que esses usassem coletes à prova de balas e sem ter feito qualquer comunicação tanto à delegacia da área, em Barueri, quanto à Delegacia Anti-Sequestro. “É evidente que essa ação foi equivocada e está mal explicada”, diz o secretário de Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi. “Mas a nossa disposição é a de levar a investigação até o fim.”

Quando escapou do atrapalhado cerco montado pela equipe do delegado Bellio, Fernando fez o empresário Silvio Santos de refém, pois temia ser morto por colegas dos investigadores assassinados. Uma das armas usadas por ele para ameaçar o empresário – um revólver calibre 38 – estava sob a guarda de Nardis. A arma pertenceu a Josiane Santos Batista, que em abril de 1996 fugiu do 25º Distrito Policial, em Parelheiros, onde cumpria pena por roubo. Na ocasião, Nardis trabalhava naquela delegacia. Agora, a corregedoria quer descobrir se há alguma relação entre o policial e a fugitiva. O que também está intrigando a corregedoria é o fato de que nos bolsos dos policiais mortos foram encontradas cédulas que fariam parte dos R$ 500 mil pagos por Silvio Santos para libertar sua filha dos sequestradores. O dinheiro desse resgate estava marcado para posterior identificação.

Para ajudar a esclarecer o comportamento dos policiais, a corregedoria está empenhada em quebrar os sigilos telefônico e bancário tanto do delegado quanto dos investigadores. Isso indica que não está descartada a hipótese de eles terem praticado irregularidades anteriores. Béllio recebeu de seguranças do flat a informação de que Fernando estava hospedado lá. A corregedoria já tem indícios de que parentes do delegado são donos da empresa que faz segurança ao flat.