Até hoje, a autora carioca Glória Perez, 51 anos, guarda a gratidão dos ciganos por tê-los ajudado, em parte, a se safar dos preconceitos ancestrais, mostrando em horário nobre o mundo exótico do povo nômade na novela global Explode coração, de 1995. Desta vez, em O clone, que estréia no dia 1º de outubro, ela irá pisar num terreno ainda mais arenoso. Vai fazer uma incursão no mundo muçulmano, comunidade que vive um momento delicado em razão das suspeitas que recaem sobre grupos extremistas islâmicos de terem cometido o maior atentado terrorista da história, semana passada, nos Estados Unidos. Por enquanto, Glória Perez prefere diminuir a presença da cultura do Islã na nova trama. Acima de tudo, ela quer que o islamismo funcione como recurso dramático da quase intransponível barreira cultural entre Oriente e Ocidente, motivo da separação da heroína Jade (Giovanna Antonelli) de seu grande amor, Lucas (Murilo Benício). “A novela se chama O clone e, portanto, seus temas polêmicos serão a clonagem humana e depois a dependência química”, antecipa a autora.

O foco nos muçulmanos possibilitará que a câmera viaje por terras de sonhos. A primeira parte, por exemplo, foi gravada no exótico Marrocos. “É lógico que, para contar a vida daquelas pessoas, falarei de aspectos da sua religião, como numa outra novela aparece um católico rezando”, compara Glória. Ela afirma que há um ano deixou evidente para a direção da Rede Globo que em O clone a cultura islâmica teria uma “abordagem genérica” e bem distante das controvérsias, sejam políticas, sejam religiosas. Mas é sempre bom lembrar que atos insanos isolados não podem estar diretamente associados a um povo. Caso contrário, corre-se o risco de se desencadear um ódio injusto.

Ao que parece, o enredo de O clone está longe de provocar tamanho sentimento. Como em toda novela global, o que conta é o glamour. Há tempos, Giovanna Antonelli vem se preparando para o papel de Jade. Aprendeu expressões idiomáticas árabes, escureceu os cabelos, fez sessões de bronzeamento artificial e se esmerou nos trejeitos sedutores da dança do ventre. Sabe-se, no entanto, que a mulher muçulmana só pode dançar em ambientes fechados, com as amigas e para o marido. Nada de exibicionismo gratuito. Pelo jeito, quem vai rebolar de verdade é Glória Perez, na sua tentativa de agradar a gregos e muçulmanos.