Em seu terceiro livro, Éden 4 e outras histórias fantásticas (Record, 190 págs., R$ 26), o jornalista e escritor Alexandre Raposo tenta enveredar pelo escorregadio terreno das hipóteses futuristas. São ao todo 15 contos, a maioria não exatamente sci-fi, mas patinando na difícil fronteira entre o realismo fantástico que vicejou nos anos de chumbo da América Latina e a influência de um Ray Bradbury revisitado, mas lamentavelmente sem substância. No conto que dá nome ao livro, e que é o mais despudoradamente sci-fi, o ponto de partida é até interessante: um mundo futuro no qual os homens se tornaram desnecessários por obra e graça dos avanços da clonagem. Nele, um macho descongelado depois de longo período de hibernação se torna alvo de atenções as mais variadas. Poderia ser hilariante, mas remete a pouco mais que um sorriso de simpatia.

O relato mais interessante e sofisticado dentre os que avançam pelo território da ficção científica talvez seja Uma escada para o céu. Resume num único condomínio uma imensa torre que desafia as alturas e reproduz a disputa social do mundo de hoje, com a decadência dos valores e dos próprios alicerces da sociedade como a conhecemos. Lembrando mais nitidamente os grandes mestres do gênero, este é o conto em que o futuro mais obriga o leitor a encarar com olhar crítico seu próprio presente. Esta sempre foi a função maior da ficção científica.