Dois amigos que, ao longo dos anos, percorreram caminhos distintos, porém sempre cruzados. Dois homens razoavelmente bem-sucedidos profissionalmente que vivem as angústias do fim da juventude. Esta é a linha mestra de Os jacarés (Cosac & Naify, 124 págs., R$ 20), livro do paulistano Carlos Eduardo de Magalhães, que chega com potencial para incomodar muitos, senão todos os leitores encaixados naquela descrição. Não é difícil identificar algum dos sinais exagerados das neuroses que vão evoluindo ao longo do texto. E não são apenas o trânsito, a violência, a competição no mundo emocional e material, os símbolos e os elementos que compõem a complicada trama social exigida dos profissionais modernos. É uma profusão de pequenos elementos que acabam formando uma gigantesca trama na qual alguns, como os personagens Antônio e Mário, acabam se perdendo. Ou não.

Para Antônio, a crise passa pela velha situação de uma vida profissional calcada no casamento, no sucesso alcançado dentro da empresa do sogro e nas pequenas vinganças que tentam relevar uma consequente frustração. Ele é casado com Paula, a quem amou e talvez ainda ame, mas a quem trai sistematicamente com mulheres das quais também quer distância. Os sonhos de fuga são a constante do momento retratado por Magalhães para um Antônio angustiado também com a angústia do amigo Mário, um publicitário de sucesso, que sucumbe ao stress tão frequente na sua área e vê num crescendo sua existência ser consumida pela mais absoluta paranóia.

Todos o perseguem, todos dele querem fazer nem mais nem menos que alimento para os misteriosos jacarés que vez por outra surgem no noticiário como frequentadores dos rios da capital paulista. Nem o carinho de Júlia, a namorada que tenta entendê-lo até o limite da insanidade, consegue devolver-lhe a razão. Repleto de referências urbanas, Os jacarés tem tudo para levar uma boa dúzia de paulistanos para o divã mais próximo. Uma leitura no mínimo obrigatória. Não só pela qualidade do texto, mas pelo alerta para muitos.